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22 de Março de 2011 - 16h29

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Médio Oriente
Turquia "fará tudo" para expulsar curdos do Norte da Síria
Por Alexandre Martins

Ofensiva Ramo de Oliveira tem como objectivo retirar o controlo de Afrin, junto à fronteira, aos curdos apoiados pelos EUA

A situação na Síria já podia ser comparada a um labirinto onde vários países e grupos armados estão envolvidos em combates sem terem ideia de como vão sair, mas tudo ficou ainda mais complicado no último fim-de-semana. Quatro dias depois de a Turquia ter começado a bombardear as forças curdas em Afrin, no Norte da Síria, o ministro dos Negócios Estrangeiros declarou ontem que "fará tudo" para acabar o que começou - mesmo que isso signifique pôr o Exército turco a combater contra forças dos EUA, da Rússia ou de Bashar al-Assad.

"Temos de fazer o que for preciso. Se não, o nosso futuro como país ficará em causa. Não temos medo de ninguém e estamos determinados. Não viveremos com ameaças", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu.

Em causa está a ofensiva a que os turcos chamam Ramo de Oliveira, lançada a 20 de Janeiro com o objectivo de expulsar as milícias curdas do YPG (Unidades de Protecção Popular) de Afrin, no Noroeste da Síria, junto à fronteira com a Turquia.

Afrin foi uma das regiões do Norte da Síria que caíram nas mãos das milícias curdas desde o início da guerra civil, em Março de 2011. Essas milícias foram - e continuam a ser - determinantes para o enfraquecimento do Daesh, e é por isso que são apoiadas pelos EUA. Mas são catalogadas como organização terrorista pelos turcos, por causa da sua ligação ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que mantém um conflito armado com a Turquia pela independência do Curdistão há mais de 30 anos.

De acordo com o Governo de Erdogan, o objectivo da ofensiva é acabar com o controlo curdo em Afrin para impedir que esta região seja mais tarde ligada aos territórios no Sudeste da Turquia cujo controlo é reivindicado pelo PKK.

E a situação pode ficar ainda mais complicada para a relação entre os EUA e a Turquia: para além de Afrin, o Exército turco está de olho em Manbij, onde os EUA têm uma força estacionada.

"Os terroristas em Manbij estão constantemente a disparar tiros de provocação. Se os Estados Unidos não puseram fim a isto, seremos nós a pôr", disse o ministro dos Negócios estrangeiros turco. E deixou um aviso à Administração Trump: "O futuro das nossas relações depende do próximo passo dos Estados Unidos. Seja Manbij, Afrin ou ameaças do Norte do Iraque, não interessa. Se houver terroristas no outro lado das nossas fronteiras, isso é uma ameaça para nós."

O lado norte-americano tem tratado esta ofensiva com pinças. O secretário da Defesa, Jim Mattis, tentou relativizar o assunto dizendo que "algo se há-de arranjar" para travar a deterioração das relações entre os EUA e a Turquia, mas as suas palavras revelaram que uma das partes terá de abdicar das suas exigências para que isso possa acontecer - por um lado, elogiou o papel dos curdos na luta contra o Daesh, salientando que isso foi feito "à custa de milhares de vidas"; por outro lado, admitiu que a Turquia tem "preocupações de segurança legítimas".



Fim

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