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22 de Março de 2011 - 16h29

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Toxicodependência
Serviço para o tratamento das dependências perdeu um terço dos profissionais
Por Ana Maia

Presidente do SICAD diz que o modelo português de combate à toxicodependência "está a definhar"

A falta de profissionais está a comprometer a capacidade de resposta do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Adictivos e Dependências (SICAD), organismo responsável pela elaboração da estratégia nacional, normas orientadoras e aprovação do investimento em projectos de intervenção. Nos últimos anos, o SICAD perdeu um terço dos seus profissionais. O modelo português de combate à toxicodependência, alertou ontem o presidente do organismo, "está a definhar".

"A falta de profissionais, a incapacidade de os captar não é só ao nível do terreno. A instabilidade tem reflexo até no próprio SICAD. Saíram 40 profissionais e nós não temos nenhuma capacidade de retenção", disse o presidente do SICAD na Comissão Parlamentar de Saúde, à qual foi chamado pelo PCP e BE para falar sobre a estratégia de redução de riscos e as demissões que aconteceram na região norte. João Goulão explicou ao PÚBLICO que a saída dos 40 profissionais começou em 2011/2012 depois de o Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) se ter transformado em SICAD e de a intervenção no terreno ter passado para as administrações regionais de saúde (ARS). "Neste momento, a estrutura do SICAD ronda os 80 profissionais. A maioria pediu transferência para outros serviços. Perdemos um terço de profissionais e as tarefas mantêm-se", acrescenta.

Tarefas que passam pela produção de guidelines e procedimentos relacionados com concursos de financiamento, acompanhamento, gestão. "Tudo isso está em causa", lamentou o responsável, que voltou a defender que o modelo actual de organização está a prejudicar a resposta do país no que diz respeito ao combate às dependências.

"Na outra estrutura [IDT] tínhamos essa capacidade de resposta imediata. As ARS têm um universo grande de preocupações em que os comportamentos adictivos são um nicho e não têm capacidade para responder da mesma maneira que a estrutura vertical", apontou João Goulão, que deixou um alerta: "O modelo está a definhar. Diria que o modelo português resiste à custa do empenho dos profissionais, que em muitos casos estão à beira da exaustão e à beira de um momento de ruptura em que não será mais possível dar resposta às necessidades dos cidadãos e retomar minimamente a robustez que este modelo já teve."

"O melhor caminho seria a reposição de serviço capaz de pensar as políticas e pô-las no terreno", disse aos deputados, quando questionado se tinha alguma indicação do que poderá ser o novo modelo organizativo prometido pelo Governo. O Ministério da Saúde respondeu ao PÚBLICO que "a posição sobre esta matéria será tomada no primeiro semestre de 2018."

O vice-presidente do SICAD, Manuel Cardoso, explicou que defendem um modelo em que "as unidades de intervenção local devem ter o poder de intervir, fazer o diagnóstico e propostas". "Por outro lado, a definição de objectivos, cumprimento e avaliação dos mesmos, para cumprir o plano nacional, seriam feitos directamente entre o SICAD e as unidades de intervenção locais."



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