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22 de Março de 2011 - 16h29

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Entrevista
Marcos Paulo, o craque que está na dúvida entre Portugal e Brasil
Por Gian Amato

Um avô português permitiu que uma das jovens promessas do futebol brasileiro fosse chamada para realizar alguns treinos na Cidade do Futebol e representar a selecção portuguesa de sub-19

As diferenças de sotaque não têm sido problema. Quem o garante é Marcos Paulo, apontado no Brasil como um dos mais promissores futebolistas "canarinhos" da actualidade e que já representou as selecções brasileiras de sub-17 e sub-18. Com um avô materno português, o avançado de 17 anos joga na equipa sub-20 do Fluminense, clube com quem tem contrato até 2020 e ao qual está ligado por uma cláusula de rescisão de 45 milhões de euros. Pelo facto de ter um passaporte português, Marcos Paulo foi convidado pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) a participar numa série de treinos dos sub-18 realizados no mês de Setembro. Poucas semanas depois, o avançado foi mesmo convocado para um torneio particular dos sub-19, em que os portugueses defrontaram Montenegro e a República Checa. Titular no primeiro jogo, que terminou empatado a zero, e suplente no segundo, disputado ontem e que acabou com idêntico resultado, o avançado está cercado de cuidados e de protecção dos amigos e empresário até escolher qual a selecção que irá representar. E tem até aos 18 anos para tomar uma decisão. "Tento não pensar muito nisso", afirmou em entrevista ao PÚBLICO. Porém, após os seus primeiros treinos em Portugal, onde se sentiu "abraçado", elogiou o sistema de trabalho, mais técnico, de contacto com a bola, passeou em Lisboa (um lugar fantástico) e disse que ser convocado para os sub-19 de Portugal lhe "abrirá as portas da Europa". Quanto ao seu avô, não escondeu a felicidade por ver o neto vestir a camisola das "quinas". "Quando lhe disse que tinha sido convocado, ele ficou muito feliz. Conversámos muito e disse-me para honrar esta camisola", revelou em declarações à FPF por ocasião dos primeiros treinos.

Quem é Marcos Paulo? 

Tenho 17 anos e sou centroavante [ponta-de-lança], mas jogo também como avançado mais "descaído" para um dos flancos ou médio. Tenho como melhores características a finalização, a habilidade e a visão de jogo. E busco sempre ser imprevisível nas jogadas. Fora de campo, procuro ser um cara alegre e estar sempre ao lado da família e dos amigos.

Fale um pouco das suas origens e onde pretende chegar no futebol.

Venho de um bairro muito humilde localizado em São Gonçalo, chamado Quinta Dom Ricardo. Sempre busco estar no meu limite porque pretendo chegar onde todos os jogadores de alto nível chegaram. Sonho jogar uma Champions League e ganhar uma Copa do Mundo.

Como foi recebido pelo grupo em Portugal?

Fui muito bem recebido. É um grupo muito alegre, divertido e unido. Foram apenas três dias de treino com os sub-18 e senti-me abraçado por todos.

Entendeu todas as palavras e a pronúncia? Foi fácil entender as instruções do mister?

Foi muito tranquilo, consegui entender bem. Não tem muito mistério, até porque é a nossa língua-mãe. Às vezes, ele falava um pouco rápido e eu tinha que me concentrar para não dar brecha (risos).

Quais as principais diferenças entre os treinos no Brasil e em Portugal?

Foram treinos mais curtos, porém intensos. É difícil até fazer uma comparação por ter sido tudo muito rápido. E foi uma experiência nova para mim. Tentei aproveitar tudo da melhor maneira possível.

Foi dada mais ênfase aos aspectos físicos ou tácticos?

Até pelo pouco tempo em que estivemos reunidos, deram mais ênfase à parte táctica, o que achei bem interessante. Jogador gosta de trabalhar com bola, de ter o contacto com ela o tempo todo.

Deve ter planos de jogar na Europa... Ser convocado para este período de treinos pode ajudar nesse salto, depois de o seu contrato com o Fluminense acabar?

Acredito que sim. Actuar na Europa sempre foi um sonho. Ser convocado para as selecções de base de Portugal pode-me abrir portas para que eu possa realizar esse sonho um dia. Mas tudo tem a sua hora.

Houve algum tipo de conselho no sentido de optar por uma ou outra selecção?

Tento não pensar nisso. Procuro, apenas, aproveitar bem as oportunidades que surgem. Sou bem tranquilo em relação a isso e deixo as coisas acontecerem.

O seu avô é português. Conhece o quê do país e das suas tradições?

Conheço mais as histórias que o meu avô me contava. Não tive tempo de conhecer Portugal, onde estive pela primeira vez. Fiquei poucos dias, só para treinar mesmo, e consegui dar um passeio em Lisboa, no domingo, quando cheguei. Um lugar lindo, fantástico.

E do futebol português, o que conhece?

Em Portugal vejo um futebol mais colectivo. É um futebol de mais força e pegada também. Tem sido uma aprendizagem enorme para mim.

Deco é ídolo no Fluminense e em Portugal. É uma inspiração?

Sempre o acompanhei e fui um admirador do futebol dele. É claro que jogadores como ele nos servem de inspiração, pela técnica refinada e pelo jeito com que tratava a bola.

Como tem sido a vida no clube que o levou às selecções de base?

Vivo um dos melhores momentos da minha ainda curta carreira. Estou muito feliz pelo meu momento no Fluminense, as coisas têm acontecido muito rápido para mim, mas de maneira natural, e espero conseguir manter o que venho fazendo, tanto nos treinos como nos jogos.



Fim

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