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22 de Março de 2011 - 16h29

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Coronavírus
Governo diz que testes rápidos são menos sensíveis mas admite uso em certos contextos
Por Filipa Almeida Mendes e Maria João Lopes

Secretário de Estado da Saúde salienta que os testes rápidos têm uma sensibilidade "ligeiramente menor", mas admite que possam ser uma "mais-valia" num "contexto de escassez de recursos" e "em determinadas situações específicas", como em surtos, nos lares ou nas escolas.

A Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) propôs distribuir gratuitamente até meio milhão de testes rápidos de diagnóstico à covid-19 para serem utilizados nas escolas e em lares. No entanto, o Governo ainda não deu luz verde ao projecto e o secretário de Estado da Saúde alertou ontem para a "menor" sensibilidade dos mesmos. Admite, contudo, que possam ser utilizados em situações específicas.

Como funcionam estes testes e qual a sua mais-valia? A principal diferença destes testes rápidos é que, em vez de pesquisarem o RNA (o material genético do próprio vírus), vão pesquisar o antigénio - proteínas específicas do vírus. Estes testes dependem, tal como os tradicionais, de uma zaragatoa nasofaríngea que é depois colocada num líquido que induz a libertação do vírus. A técnica é semelhante à dos testes de gravidez e permite uma reacção em tempo real. "Esta reacção demora entre 15 e 20 minutos e consoante umas marcas que vão aparecendo, uma coloração induzida por uma reacção química, conseguimos perceber se o vírus é detectado ou não", começa por explicar ao PÚBLICO Gonçalo Órfão, especialista em imuno-hemoterapia e gestor do Programa Especial de Testes Covid-19 da CVP.

Gonçalo Órfão destaca que a CVP está a trabalhar com duas grandes farmacêuticas que fabricam estes testes, a Roche e a Abbott, e que, segundo os estudos destas empresas, "a sensibilidade anunciada é entre os 93% e 97%, comparativamente ao teste molecular, com uma especificidade alta", sendo que "o risco de falsos positivos é baixo". A proposta surgiu depois de a CVP se ter candidatado, há mais de três meses, a um financiamento europeu no âmbito do Mecanismo Europeu de Protecção Civil, através da Federação Internacional da Cruz Vermelha, tendo recebido financiamento para adquirir até meio milhão de testes rápidos.

"Neste momento, estamos a fechar o orçamento final, mas um dos objectivos é, com base neste orçamento, aumentar a capacidade de testagem do país. O que estamos a articular com o Governo depende da política de testagem nacional", declara. Estes testes rápidos devem sempre ser feitos por um profissional de saúde, sublinha. "É uma técnica relativamente simples, mas que obviamente tem de ser ensinada e aprendida para que os resultados sejam fiáveis."

Segundo o especialista, os testes rápidos encomendados à Roche e à Abbott são testes "muito recentes", pelo que necessitam ainda de estudos complementares. "Há um [teste de uma empresa] que ainda não está no mercado, vamos receber as primeiras unidades esta semana." No entanto, estes testes tiveram já aprovação do Infarmed, assim como da agência norte-americana Food and Drug Administration e da CE, a agência europeia. "É importante naturalmente que, a nível do programa nacional, os respectivos peritos da área ditem o seu parecer. Nós próprios já estamos a fazer estes testes há duas semanas."

Porém, falta ainda a luz verde do Governo e a validação do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), cujo papel passa por apoiar o Governo na definição de uma política de testagem juntamente com a Direcção-Geral da Saúde (DGS). Ontem, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, salientou que, "por princípio, estes testes de antigénio têm uma sensibilidade menor, ou ligeiramente menor, do que os testes PCR-RT (os testes convencionais), particularmente quando a carga viral nos doentes é baixa".

"Admito, no entanto, que num contexto de Outono/Inverno, em que de facto a necessidade de testagem será superior, concomitantemente com o início da época gripal, vários países europeus estão a fazer uma análise deste tipo de testes, inclusivamente Portugal", acrescentou Lacerda Sales, referindo, entre outros, o exemplo da Bélgica, que está a utilizar testes rápidos, mas mediante a posterior realização de testes PCR "para confirmar os negativos".

"Tendo em conta ainda esta probabilidade de falsos negativos e de poder ter de ser feito um teste de PCR subsequente nessas condições, achamos que não deve constituir critério único na avaliação", disse Lacerda Sales. Ainda assim, acrescentou, "num contexto de escassez de recursos, de evolução epidemiológica e em determinadas situações específicas, por exemplo, em surtos, em contexto de lares ou até nalgumas situações em contexto de escolas, estes testes de antigénio poderão ser uma mais-valia, pois permitem com rapidez detectar indivíduos com doença activa".

"Nestes casos e porque há vários testes também de antigénio, devemos sempre procurar os testes com maior sensibilidade e maior especificidade e isto deve ser feito de acordo também com as autoridades de saúde", terminou António Lacerda Sales. Hoje haverá uma reunião entre a CVP, o INSA e o Infarmed.



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