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22 de Março de 2011 - 16h29

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Coronavírus
Plano de Inverno prevê mapas de risco e unidades só para covid
Por Ana Maia

Entre as medidas previstas está a criação de uma task force para doentes não covid. Profissionais de saúde elogiam plano mas criticam atraso e acham que devia haver mais concretização

Criação de uma task force para doentes não covid, transformação das áreas dedicadas aos doentes covid em áreas destinadas a doentes respiratórios (covid e gripe, por exemplo) e a existência de unidades livres da infecção provocada pelo SARS-CoV-2. Estas são algumas das medidas que constam do Plano de Outono/Inverno do Ministério da Saúde que ontem foi finalmente divulgado. Profissionais de saúde contactados pelo PÚBLICO consideram-no positivo, mas lamentam que seja pouco concreto em alguns aspectos.

O documento, que será revisto a cada dois meses, refere que estão a ser feitos mapas de risco epidemiológico, com a definição de níveis, que "vão garantir a adequação das medidas ao risco real de cada região ou local" e que vão permitir "escalar" a resposta. E recomenda o uso de máscaras em espaços abertos quando não é possível manter o distanciamento de dois metros. Um dos maiores desafios será a identificação das várias doenças respiratórias que estão em circulação ao mesmo tempo. O plano prevê a introdução de testes rápidos e a transformação das áreas dedicadas à covid nos centros de saúde e hospitais em áreas dedicadas a doentes respiratórios, já que a capacidade de resposta vai ter de ser maior.

Avança-se ainda com a possibilidade de estas áreas passarem a ter pontos de colheita de amostras para a realização de testes covid, de modo a evitar mais deslocação entre serviços de saúde.

Nas áreas metropolitanas será planeada a instalação de hospitais de campanha e, nos hospitais de maior dimensão, será ponderada a conversão total de edifícios para a instalação de áreas dedicadas a doentes respiratórios e áreas de internamento para doentes com infecção respiratória aguda e covid-19.

Será criada uma task force de resposta aos doentes não covid, que ficará na dependência do Ministério da Saúde e integra elementos de cada uma das Administrações Regionais de Saúde (ARS). Ao nível dos centros de saúde, a capacidade de resposta deve ser maximizada "através da consagração de períodos dedicados ao atendimento". Por um lado, presencial, "com pré-agendamento de toda a actividade assistencial programada, triagem presencial, reorganização dos horários de atendimento e dos espaços"; por outro com atendimento não presencial, "baseado num atendimento telefónico qualificado e dedicado" e no recurso "a teleconsulta e telemonitorização".

Já no campo hospitalar, os planos de contingência devem estar preparados para que se passe para uma situação em que há serviços ou unidades completas só dedicadas a doentes covid e outras covid free.

Previsto está também o reforço da articulação entre as equipas de alta e o sector social e a criação de hospitais de retaguarda, especialmente nas áreas de Lisboa e Porto, para minimizar o impacto de utentes que não precisam de estar internados mas não têm outra resposta. Assim como uma reorganização das urgências em articulação com os centros de saúde, de forma a que casos não urgentes (pulseiras azuis e verdes) sejam encaminhados para os cuidados de saúde primários, e incentivos à cirurgia electiva e de ambulatório, com avaliação pré-operatória em modelos de drive-through (as pessoas dirigem-se de carro a centros de testes antes da cirurgia).

Em entrevista à RTP, a ministra da Saúde assegurou que o SNS está longe do colapso, encontrando-se preparado para uma eventual segunda vaga de covid. Marta Temido lembrou que o SNS "tem 21 mil camas de internamento", das quais 7 mil são da região de Lisboa e Vale do Tejo - destas 7 mil, 500 estão guardadas para responder à pandemia estando, neste momento, 300 ocupadas.

Para o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, "este documento deveria ter sido apresentado em Junho". "O que fazia sentido era anunciar um plano de acção. O final de Setembro é um momento de decisão e implementação", afirma Alexandre Lourenço.

Considerando que o plano é ainda assim "interessante", dá nota positiva à criação da rede covid e não covid e aos de mapas de risco epidemiológico, que considera que "já deveriam estar implementados". Mas "falta gestão operacional". "Não diz quais os recursos que vão ser afectos e quais as áreas que vão ficar dedicadas à covid, a partir de que níveis será accionada as unidades free covid ou quantas camas terão".

Também o bastonário dos Médicos gostava que o plano "fosse mais objectivo" e "trouxesse metas e como fazer". "Não diz que hospitais vão ser covid free, se é possível fazê-lo só com o SNS ou se haverá apoio do sector social e privado. E que plano excepcional vai ter para a recuperação de doentes?" Miguel Guimarães afirma que para que haja recuperação tem de haver uma estratégia diferente para as áreas dedicadas a doentes respiratórios daquela que foi aplicada às áreas dedicadas à covid nos centros de saúde e que tem deixado os médicos de família pressionados. Entre os pontos positivos destaca estes: "Prevê hospitais de retaguarda que temos pedido, admite os testes rápidos que são muito importantes e recomenda o uso de máscaras em espaços abertos com muitas pessoas."

Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, fala num plano "com boa estrutura". Mas considera podia ter sido apresentado há mais tempo. "O nosso receio é que o plano esteja atrasado na sua concretização. Esperemos que o Inverno chegue em Janeiro, mas muitas coisas podem ter de ser aceleradas." Como aspectos mais negativos lembra que as normas de definição de caso e de critério de alta ainda não estão actualizadas. Também Diogo Urjais, da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar, refere a necessidade desta actualização. Quanto ao encaminhamento para centros de saúde de doentes triados na urgência com pulseiras verdes e azuis, diz que "não é solução". "As pessoas não aceitam e há experiência em várias ARS. Temos de trabalhar para que esses utentes não cheguem às urgências."



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