PSD desconfia das contas do Governo mas admite negociar Orçamento

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Sócrates acusou o maior partido da oposição de "calculismo político" pedro cunha

Sócrates desafiou sociais-democratas a definirem-se. Estes remetem as negociações para o Parlamento

O anúncio do tratamento de choque para as contas públicas abriu uma nova brecha na desconfiança entre PSD e Governo. Na manhã seguinte à conferência de imprensa onde o primeiro-ministro anunciou medidas para cortar 3400 milhões de euros na despesa e aumentar 1700 milhões na receita, o líder social-democrata, Pedro Passos Coelho, afirmou que o país foi enganado "sobre a verdadeira dimensão do problema financeiro" do país. Apesar disso, manteve aberta a porta das negociações e garantiu que o PSD estará "à altura das suas responsabilidades".

"Se os números que foram apresentados pelo Governo são correctos relativamente àquilo que é necessário cortar no défice, quer este ano, quer em 2011, então todos os números que apresentou até esta data não estão certos", afirmou Passos Coelho. E tirou a conclusão: "Andámos demasiado tempo a enganar o país e a ocultar a verdadeira dimensão do problema financeiro que tínhamos."

Na sua primeira reacção ao novo pacote de austeridade - mais tarde baptizado "plano Sócrates" pelo PSD -, Passos Coelho admitiu, no entanto, que o seu partido pode não ter margem para chumbar o Orçamento do Estado 2011. "A apresentação da proposta no Parlamento marcará não o fim, mas o início da conversa e do caminho que haveremos de encontrar para sairmos da grave situação em que estamos", afirmou.

Passos Coelho seguia assim as indicações dadas pouco antes pelo Presidente da República, que remetera para o Parlamento e as responsabilidades dos partidos a necessária viabilização das contas públicas. Em Coimbra, logo de manhã, Cavaco Silva tinha-se referido aos encontros tidos nos últimos dias com os partidos em Belém, revelando ter transmitido aos líderes partidários "todas as informações de que dispõe" sobre as "eventuais consequências que uma crise política provocaria" no actual quadro "em que a Assembleia da República não pode ser dissolvida".

Sócrates contradiz-se

Foi, porém, o próprio primeiro-ministro que ontem afastou o cenário de crise política. Uma semana após o Governo ter dramatizado o chumbo do Orçamento acenando com a demissão, Sócrates acabou o debate quinzenal no Parlamento afirmando que não foge: "Eu estou aqui, nunca virei a cara à luta e nunca me passou pela cabeça qualquer intenção de me ir embora, pelo contrário, estou aqui para cumprir o meu dever."

Uma frase espontânea que obrigou o gabinete do primeiro-ministro a corrigir o tiro, à noite: a ideia era responder à provocação de Paulo Portas, que em Julho o convidara a sair, mas não invalida a demissão do Governo em caso de chumbo do OE.

Durante o debate, que decorreu em tom crispado, José Sócrates desafiou repetidamente o PSD a dizer já como vai votar, afirmando mesmo que o "tabu" social-democrata significa "calculismo político".

Miguel Macedo, líder parlamentar do PSD, tinha começado por acusar o primeiro-ministro de ser "politicamente inimputável" e exigiu que o Governo explicasse o que correu mal na execução do Orçamento deste ano e dos PEC I e II. Sócrates respondeu que nada correu mal. "As receitas estão muito acima do orçamentado e as despesas estão dentro do padrão", afirmou, arrancando uma gargalhada à bancada "laranja".

Entrando numa espécie de campeonato de "credibilidade e confiança", Sócrates pediu ao PSD que tomasse uma posição, porque "a credibilidade advém da coragem de tomar as decisões necessárias".

Macedo respondeu que "credibilidade é cumprir o que se promete aos eleitores" e questionou que confiança tem um governo "que há quatro meses garantiu que as medidas tomadas eram suficientes" e agora apresenta este novo "plano Sócrates".

Como se não bastasse a oposição, o PS viu ontem também o candidato presidencial que apoia distanciar-se do plano de austeridade que apresentou. Numa visita à Marinha Grande, Manuel Alegre admitiu que as medidas "são duras e difíceis" e mostrou-se "preocupado" por incidirem "fundamentalmente sobre os funcionários públicos, classe média e pensionistas". Para o candidato que também é apoiado pelo Bloco de Esquerda, nesta situação, "num plano de equidade e justiça, deveria exigir-se à banca uma maior contribuição para a resolução da crise e dos problemas do país". Manuel Alegre disse ainda que se deveria acrescentar a este pacote "um plano de incentivo ao crescimento e ao emprego".

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