Economistas defendem que recurso ao FMI não é solução

Apesar de os mercados ainda não darem tréguas a Portugal, há cada vez mais vozes a afirmar que uma intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo menos nos mesmos moldes que a da Grécia e da Irlanda, não é a melhor solução. É o caso dos economistas Daniel Bessa, José Castro Caldas e João Amaral Tomaz ou do gestor Henrique Granadeiro, que expuseram ontem as suas opiniões na conferência Portugal 2011: Vir o Fundo ou ir ao fundo?, em Lisboa.

O presidente da Portugal Telecom disse mesmo ser contra a entrada do FMI em Portugal, afirmando que a Grécia e a Irlanda em nada foram beneficiadas, pois têm de pagar juros elevados nos empréstimos do FMI e da UE e continuam a ser penalizadas nos mercados. Também Daniel Bessa defende que "já somos crescidinhos" para resolver os nossos problemas. Para o director-geral da Cotec, a intervenção do FMI deve ser vista como o "último recurso" e, no cenário actual, não traz vantagens. "Se for para termos o mesmo FMI que a Grécia e a Irlanda, não obrigado", resume José Castro Caldas. Caso contrário, acrescenta, o fundo aplicará a sua típica receita de austeridade, que terá efeitos recessivos, e Portugal arrisca-se a "ir ao fundo com o fundo".

O mediador do crédito João Amaral Tomaz, que já integrou missões de assistência técnica do FMI a vários países, defende que "o recurso a terceiros só se justifica se não formos capazes de ultrapassar as nossas próprias dificuldades". Mas deixou uma sugestão: o Governo português devia passar a prestar informações regulares ao FMI, tal como a Irlanda e a Grécia são obrigadas a fazer no âmbito dos planos de resgate.

Jacinto Nunes, antigo ministro das Finanças e governador do Banco de Portugal, aproveitou a conferência para exprimir dúvidas sobre se "o PEC III será suficiente" e se "haverá vontade política para o executar". O economista considera que, "se as respostas a estas questões forem negativas, então o FMI que venha realizar aquilo que não soubemos ou não quisemos fazer".

Teresa Ter-Minassian, a economista que negociou o pacote de ajuda do FMI a Portugal em 1983, também esteve ontem na conferência, onde fez questão de esclarecer que o papel do fundo é "facilitar, e não impor ajustamentos". Para a economista, se o FMI voltasse a intervir em Portugal, poderia ajudar na definição das reformas estruturais, que passariam sobretudo pela flexibilização do mercado laboral e por uma maior concorrência no sector dos serviços.

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