Cães e gatos obesos... É possível?

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Não sou nada impressionável, mas chocou-me ler no Financial Timesque a Nestlé estava a focar-se em dois segmentos de alto crescimento: dietas para a obesidade e alimentos para animais de estimação (pet food). E que mais de metade destes animais são obesos! A agência Euromonitor prevê que nos EUA o pet foodaumente 23% entre 2011 e 2015, mais do dobro do aumento para humanos. Para a Nestlé tais alimentos para animais têm sido um sector importante, com vendas de 13.800 milhões de dólares no último ano fiscal.

A obesidade animal deve resultar do mesmo vício dos donos obesos: alimentos gordurosos acompanhados de químicos como a Coca-Cola, a falta de exercício físico, a comida em excesso, na mira de se tornar musculado, acompanhado de uma vida sedentária para não cansar... De facto, dois terços dos adultos dos EUA são obesos. Isto nada teria de estranho - cada qual come o que quer e alimenta os bichinhos como quer -, se não fossem as imagens que todos os dias vemos, lancinantes, de crianças desnutridas e a morrer em quase todo o mundo, também nas bolsas de extrema pobreza dos países ricos. Organismos das Nações Unidas referem que havia 925 milhões de pessoas subnutridas em 2010, cerca de 13,6% da população mundial. E são as crianças as vítimas mais sofredoras e vulneráveis, por vezes com danos irreversíveis. Uma criança subnutrida é presa fácil das doenças, por estar debilitada.

Independentemente dos desequilíbrios de uns quantos nutrientes, há hoje alimentos mais do que suficientes para toda a população do mundo. Dados fiáveis dizem que se produzem mais 17% de calorias por pessoa do que há 30 anos, apesar de a população ter aumentado 70% neste período.

A pobreza é uma das causas principais da subnutrição. Há mais de 1300 milhões de pessoas a viverem com menos de 1,25 dólares por dia. E fala-se da morte de mais de 16.000 crianças por dia por causas relacionadas com a fome. É chocante que as pessoas remediadas e ricas, tanto de países abastados como dos de baixo rendimento per capita, não sejam solicitadas mais activamente a colaborar com instituições que tratam de levar ajuda aos subalimentados. Os organismos internacionais deveriam tentar formas mais imaginativas e eficazes de informar, solicitar apoios, fomentar a generosidade.

Aquando da revolução verde, nos anos 1960 e 70, feita pela disseminação de espécies híbridas de cereais de alta produtividade, resistentes às durezas climáticas e às pragas, a produção de cereais aumentou notavelmente. Pensa-se que há um vasto campo de progresso para a investigação aplicada que provoque novas revoluções na agricultura, para ultrapassar os actuais desafios, entre eles a pressão do biodiesel.

Para além da quantidade, a composição equilibrada e variada da dieta alimentar, com vitaminas e minerais absorvidos dos alimentos, é necessária para uma vida sã. No âmbito da sua "responsabilidade social corporativa", muitas empresas dedicaram-se a investigar e proporcionar produtos para superar certas carências endémicas. O sal iodado foi, por exemplo, a solução encontrada para ultrapassar a carência de iodo; uma bebida à base de ferro, de custo muito acessível, foi lançada na Índia, para tentar ultrapassar uma anemia frequente na mulher rural indiana.

Para evitar a obesidade dos animais de estimação, um imposto especial, para o reverter às crianças subnutridas, podia ser um acto de grande justiça que todo o cidadão consciente aceitaria de boa vontade. Assim, todos os alimentos para animais de estimação deveriam arcar com um imposto elevado, como o da gasolina. Seria a forma fácil de reduzir a obesidade animal e dar alimentos às crianças ameaçadas de morrer à fome.

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