Docentes de Letras de Coimbra querem interditar formas de praxe indignas e atentatórias

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Há "coacção violenta" de alunos

Abaixo-assinado de docentes reage a acto de violência que terá sido exercido sobre duas estudantes

Um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Coimbra pôs hoje a circular entre os colegas um abaixo-assinado a solicitar aos órgãos da universidade a interdição de certas formas de praxe académica que consideram indignas.

O documento surge depois de ter sido revelado ontem um caso de alegada violência sobre duas estudantes, que o Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra, que tutela a praxe académica, irá investigar e que pode acabar com uma queixa policial.

Catarina Martins, uma das promotoras do abaixo-assinado, disse à agência Lusa que tais práticas, dentro e fora das instalações da faculdade, põem em causa a imagem da instituição e são atentatórias "ao que deve ser a universidade e a sua função", de educação para a cidadania, promoção dos direitos individuais, do saber e do sentido crítico.

Afirma que os docentes promotores do documento entendem que "não podem continuar a ficar passivos face à passividade dos órgãos responsáveis".

Invasões de aulas por grupos de alunos de outras faculdades, cânticos obscenos envolvendo o nome de docentes e "coacção violenta a alunos", gravadas em vídeo de forma ilegal, são alguns dos comportamentos que esta professora identifica e censura. "Há práticas que violam a liberdade e dignidade de cada um, com um carácter profundamente sexualizado, com linguagem fortemente obscena, e são violentas", sublinha a docente.

Catarina Martins diz que o abaixo-assinado, dirigido ao director da faculdade, que o deverá fazer chegar ao reitor, assume uma "posição relativamente branda, que pretende ser construtiva e gerar uma consensualidade, reflectindo porém um repúdio que, na maior parte dos casos, é bem mais profundo do que os termos do texto".

No decurso do ano lectivo - afirmam no preâmbulo - "vários/as docentes desta faculdade observaram diversas práticas associadas à chamada "praxe académica" que se apresentaram como actos de humilhação, de atemorização e de atentado à dignidade dos/as estudantes. Apesar do repúdio e do temor que alguns/mas estudantes sentem em relação a estas práticas, as queixas contra as mesmas não são formalizadas devido ao receio de retaliações".

Pedem uma intervenção dos órgãos da faculdade no "sentido de esclarecimento dos/as estudantes relativamente aos seus direitos", alertando no início do ano os novos alunos para a possibilidade de recusarem a praxe, distribuindo material informativo sobre o assunto, envolvendo nessas ações o Núcleo de Estudantes e criando estruturas de apoio aos anti-praxistas.

João Luís, responsável máximo pelo Conselho de Veteranos, disse à agência Lusa que os docentes da Faculdade de Letras têm todo o direito de tomar as posições que entenderem, mas escusou-se a comentá-las, por desconhecer o seu conteúdo.

"Se às pessoas falta educação não é a praxe que a dá. Todos os anos apelamos à moderação e dizemos-lhes que a praxe é para as pessoas se divertirem e não para extravasar frustrações pessoais", declarou. Considera "impossível controlar atitudes menos próprias", e salienta que algumas ações que designam de praxe não o são e os prevaricadores, quando são identificados, são chamados à razão ou punidos, de acordo com o Código da Praxe. Lusa/PÚBLICO

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