Crise da zona euro só se resolve com criação dos "Estados Unidos da Europa"

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Daniel Cohn-Bendit e Guy Verhofstadt lançaram o manifesto num "acesso de cólera" GEORGES GOBET/AFP

Verhofstadt e Cohn-Bendit, líderes liberal e verde do Parlamento Europeu, lançam manifesto em favor de uma Europa federal

A crise da zona euro só se resolverá com uma revolução que leve à criação dos Estados Unidos da Europa dotados de instituições federais de suporte à moeda única e que permitam conciliar a necessária disciplina orçamental com a indispensável solidariedade.

Esta posição foi ontem defendida pelos líderes dos grupos políticos liberal e verde do Parlamento Europeu - Guy Verhofstadt, ex-primeiro-ministro belga e Daniel Cohn-Bendit, ex-líder do movimento estudantil francês de Maio de 1968 - no quadro de um grande manifesto para a construção dos Estados Unidos da Europa.

Para os dois líderes a crise do euro não é "nem económica, nem financeira, mas política" e resulta de um "vício de construção" da moeda única que, se não for rapidamente corrigido, lhe "poderá ser fatal". Este erro resulta, por seu lado, da ausência de um Estado capaz de suportar a moeda única e defendê-la e aos seus membros dos ataques especulativos.

"Mesmo se Estados sem moeda podem existir, o contrário não é possível", escrevem os dois deputados. O problema, prosseguem, está em que, três anos depois do início da crise da dívida, "os Estados-membros continuam ainda hoje a pensar que poderão preservar o euro escapando a "um avanço substancial na integração europeia - estão enganados".

Verhofstadt e Cohn-Bendit são claros: "Não conseguiremos preservar o euro sem alterar os Estados nações, pelo menos na sua forma actual." E das duas uma, defendem: "Ou emerge um Estado federal europeu, uma Europa política pós-nacional, ou o euro desaparecerá. Não existe nenhuma solução intermédia."

Isto significa que o euro terá de ser suportado por um governo europeu que elabore políticas económicas, orçamentais e fiscais e as faça respeitar por todos os Estados-membros. "Em paralelo, e, por sua vez, a União Europeia só poderá sobreviver, se este governo basear a sua legitimidade numa autêntica democracia europeia que passe pelo reforço das instituições parlamentares e pela participação dos cidadãos."

Foi por essa razão que os dois eurodeputados lançaram o manifesto - num "acesso de cólera", explicam -, por enquanto publicado em sete línguas da UE, esperando criar "um movimento de cidadãos, uma opinião pública europeia" na perspectiva das próximas eleições europeias de Junho de 2014. Isto, "porque não são os governos que vão resolver o problema, são os cidadãos", defende Cohn-Bendit.

A expectativa dos dois autores é que o próximo Parlamento Europeu seja dotado de um mandato constituinte para a elaboração de uma "lei fundamental" europeia que substitua as centenas de páginas dos actuais tratados.

No curto prazo, Verhofstadt e Cohn-Bendit consideram que as actuais políticas de austeridade não vão resolver a crise em Portugal, Grécia ou Espanha e defendem duas medidas urgentes para os ajudar: o reforço do orçamento comunitário (hoje limitado a 1% do PIB da UE) para permitir a formulação de políticas de crescimento económico, e a criação de um mercado único de obrigações (de dívida) para restaurar a confiança na zona euro e atrair os investidores, que poderão fornecer a liquidez de que os países mais frágeis necessitam para se financiarem a baixo custo.

"Hoje quando os governos [do euro] dizem a estes países que precisam de fazer esforços, não medem o grau de frustração, angústia e medo que estão a criar nessas sociedades", alerta Cohn-Bendit. Em sua opinião, aliás, "o futuro da democracia europeia joga-se em Atenas, Lisboa, Madrid ou Roma", onde o desespero ameaça reforçar os movimentos populistas e extremistas, podendo conduzi-los a soluções do passado, como "o regresso dos coronéis" na Grécia.

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