Bancadas do PSD e do CDS desconfortáveis com forma de comunicar novos impostos

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Portas durante a campanha foi contra o aumento de impostos ADRIANO MIRANDA

Entre os deputados de apoio à maioria cresce o mal-estar sobre os anúncios sucessivos de aumento de carga fiscal sem o contrapeso necessário do corte de "gorduras"

As bancadas parlamentares da maioria PSD/CDS manifestaram algum desconforto com mais um anúncio de aumento de impostos, apontando críticas sobretudo à forma como o Governo está a comunicar e a explicar as medidas. Mesmo com nuances entre as duas bancadas, essa preocupação sobressaiu nas respectivas reuniões de quinta-feira, apurou o PÚBLICO.

Na reunião dos sociais-democratas, os deputados manifestaram solidariedade com o Governo e mostraram-se disponíveis para defender as medidas no Parlamento, mesmo as mais difíceis. Mas houve quem se queixasse da falta de concretização dos anúncios governamentais e apontasse a comunicação do executivo como um problema.

Se há quem considere que as medidas verdadeiramente impopulares ainda estão para vir, outros lembram que o Governo tem de explicar melhor a necessidade de mais impostos e a obrigação de realçar os cortes no desperdício. Como o líder da bancada parlamentar, Luís Montenegro, sublinhou no final da reunião aos jornalistas, as medidas do Governo reflectem dois terços de redução da despesa e um terço de aumento de receita. Mas, entre os sociais-democratas, há quem frise que, para a maioria dos portugueses, esta imagem está distorcida.

Na reunião ficou também afinada a estratégia de resposta ao PS: não deixar cair no esquecimento que a grave crise económico-financeira foi herdada dos socialistas.

O desconforto de muitos deputados das bancadas da maioria resulta também da sua exposição pública. Lembram que estão a receber e-mails de protesto e indignação, até porque o seu endereço electrónico está acessível na página do Parlamento.

Na reunião do grupo do CDS-PP, o incómodo foi sentido com mais um anúncio de aumento de impostos, na véspera, pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar. A questão fiscal é muito sensível para os democratas-cristãos já que Paulo Portas se mostrou, antes e durante a campanha eleitoral, frontalmente contra qualquer aumento da carga fiscal. Esse compromisso está agora a chocar com a realidade.

Entre os centristas há quem responsabilize a "demagogia" pré-eleitoral do líder do CDS na posição contra o aumento de impostos e na defesa de medidas como a redução dos gestores públicos, ainda não concretizada. E o que alguns temem é que, no final de uma legislatura, o balanço do Governo apoiado pelo CDS seja o de que serviu para "alimentar o monstro fiscal". Uma imagem fatal para o partido que fez da oposição ao aumento de impostos uma bandeira eleitoral.

Outros lembram que há mesmo um problema de comunicação e que o Governo não está a fazer o esforço suficiente para sublinhar medidas de poupança em redução de institutos e de serviços, por exemplo. A obsessão pelo défice, defende um deputado, deveria ser trocada pelo acentuar da tónica na dívida pública, já que é este o nervo que mexe com o défice.

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