A longa história dos acidentes de uma indústria perigosa

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Os custos ambientais do derrame do JOHN GAPS III

Exploração e refinação de petróleo é um dos sectores da química pesada mais propensos a grandes desastres ambientais

Pela dimensão e dificuldade em conter os seus efeitos, a explosão de Deepwater Horizon promete deixar marcas na história da indústria petrolífera e até mesmo na popularidade do presidente dos Estados Unidos. O derrame do golfo do México foi todavia apenas o último acontecimento de uma vasta série de acidentes relacionados com refinarias e com a exploração de petróleo, que colocam este sector de química pesada como um dos mais propensos a grandes desastres ambientais.

Um dos mais impressionantes sucedeu há mais de 20 anos. O derrame de quase 41 milhões de litros de crude do Exxon Valdez (equivalente a cerca de 250 mil barris) aconteceu em Março de 1989, quando este petroleiro viajava na região do Alasca e embateu numa barreira de recife. O navio era conduzido por uma tripulação demasiado exausta e com um radar que não funcionava por falta de investimento na sua reparação. Este ficou para a história como um dos mais graves acidentes em termos ambientais: a maior parte do crude nunca foi retirada das águas e os efeitos negativos prolongam-se até aos dias de hoje, de acordo com estudos científicos que têm sido realizados na região.

Mas o caso Exxon Valdez ficou também conhecido como um mau exemplo de como lidar com situações de crise (sem grandes efeitos no presente, diga-se). O estreito Prince William, onde o petroleiro encalhou, fica numa zona remota do Alasca e o clima tornou-se rapidamente instável, dificultando as operações de limpeza. A lentidão na resposta por parte da Exxon e a forma arrogante e desastrada como o grupo norte-americano lidou com a imprensa e com as populações (toda a comunicação ficou centralizada na pequena cidade de Valdez, no Alasca) tiveram péssimos efeitos na imagem da companhia.

A revista Fortune calcula que os custos para a petrolífera, incluindo as indemnizações pagas, teriam ascendido hoje a 6,3 mil milhões de dólares (5,1 mil milhões de euros), actualizados pela inflação. Mas, apesar de tudo, aquela que se veio a transformar na Exxon Mobil Corporation cresceu cada vez mais e é hoje a maior do mundo.

Quanto à BP, esta não é a primeira vez que o grupo britânico enfrenta um acidente de grandes proporções nos Estados Unidos. O maior de todos até agora tinha sucedido em 2005, quando uma explosão numa refinaria da BP localizada em Texas City (Texas), uma das maiores unidades dos Estados Unidos, com uma capacidade de refinação de 437 mil barris por dia, matou 15 trabalhadores e feriu mais de 170. Até agora, várias queixas continuam em tribunal e ainda não há um valor final para as indemnizações, embora a BP alegue que até agora pagou 1,6 mil milhões de dólares (1,3 mil milhões de euros) para compensar as famílias e as vítimas. Por outro lado, em Outubro de 2009, as autoridades norte-americanas impuseram uma multa de 87 milhões de dólares (71 milhões de euros) à petrolífera britânica, a maior na história da Occupational Safety and Health Administration (principal agência federal norte-americana responsável pela aplicação das leis de saúde e segurança nos Estados Unidos). Em causa estiveram falhas detectadas no reforço de segurança da refinaria de Texas City, depois do acidente de 2005. Os inquéritos realizados depois da explosão encontraram várias lacunas graves no funcionamento daquela unidade, incluindo as condições de manutenção do equipamento, a gestão de risco e do pessoal e a própria cultura de segurança no local.

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