Este foi o Julho com mais mortos nas estradas desde 2005

Foto
Lisboa é o distrito do país onde se registaram mais vítimas mortais josé carlos coelho

Um quinto do total de vítimas mortais de acidentes de viação deste ano morreu no mês passado. Tendência de descida inverteu-se

A morte de 82 pessoas na sequência de acidentes rodoviários, no último mês, faz deste Julho o mais mortal nas estradas portuguesas desde 2005. Os dados da sinistralidade, que ontem foram divulgados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), mostram uma inversão da tendência de descida do número de mortos na estrada.

Apenas na última semana do mês passado morreram 31 pessoas em acidentes rodoviários e 99 ficaram gravemente feridas. Em Julho, as estradas portuguesas fizeram um total de 82 vítimas mortais, cifra que, nos últimos cinco anos, apenas foi ultrapassada em 2005, quando morreram 100 pessoas no mesmo período.

Em Julho foi registado um quinto do total das vítimas mortais que constam nas estatísticas da ANSR. Nos primeiros sete meses do ano, morreram 406 pessoas nas estradas portuguesas, mais duas do que em igual período do ano passado.

Estes números dizem apenas respeito às mortes no local do acidente ou durante o percurso até aos hospitais. Apesar de o Governo ter decidido que as estatísticas devem também contabilizar os feridos resultantes dos sinistros que morram nos 30 dias seguintes, os dados ontem revelados ainda não incluem essas mortes, ainda que a ANSR garanta que vai divulgá-las durante este mês.

Daí que o presidente da Associação Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M), Manuel João Ramos, considere que os "números são fictícios". "Não estamos a lidar com números verdadeiros", concorda Nuno Salpico, do Observatório da Segurança das Estradas (OSE). "A esmagadora maioria das vítimas dos acidentes de viação morre nos dias seguintes. Na realidade, podem ser 600 os mortos, mas não o sabemos", considera Salpico, para quem o Governo é responsável por não ter criado "condições reais para que possam ser contabilizados os dados hospitalares" na estatística das vítimas dos acidentes rodoviários.

O relatório da ANSR indica que houve 59 mortos em acidentes no distrito de Lisboa, o que faz desta a região com mais vítimas mortais, seguindo-se Porto (55) e Aveiro (42). Já os distritos com menos vítimas mortais nas estradas foram Guarda (5) Vila Real (6) e Beja (8). De acordo com o documento, registou-se, porém, uma diminuição do número de feridos nos acidentes. Este ano há 23.354 feridos ligeiros, menos 829 que nos primeiros sete meses de 2009. Os feridos graves foram menos 39, num total de 1461.

"Sensação de impunidade"

Os 406 mortos registados até ao final do mês passado mostram uma quebra na tendência de diminuição das vítimas, que se tem mantido estável nos últimos cinco anos. E Agosto é, tradicionalmente, o mês em que mais acidentes mortais se registam em Portugal, o que pode agravar a realidade.

Nuno Salpico, do Observatório das Estradas, acredita que a sinistralidade pode ser imputada à "sensação de impunidade vivida pelos condutores" portugueses. "Todos os anos prescrevem cerca de um milhão de processos de contra-ordenação", recorda. Para o líder do observatório, a crise também ajuda a explicar a situação. "Para não pagarem portagem, muitas pessoas preferem circular em IP, IC ou estradas nacionais, que são vias mais perigosas e aumentam os factores de risco", ilustra.

Para o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia, Paulo Rodrigues, o aumento do número de mortos é "uma situação pontual". "Se calhar, no final do Verão, vamos ter uma redução face ao ano passado", antecipa, sublinhando o nível de mobilização da PSP, que tem feito "bastante fiscalização nas estradas".

Também José Manageiro, da Associação dos Profissionais da GNR, entende que a variação é "reduzida" e que isso "não permite fazer uma leitura muito clara sobre as causas que estão na sua origem". No entanto, lembra a "situação de instabilidade que se vive entre os antigos elementos da Brigada de Trânsito (BT)", desde que esta foi extinta. "Olhando para os dados, não se pode dizer que a reorganização feita pelo Governo tenha tido êxito", sustenta José Manageiro.

A extinção da BT é apontada também pelo presidente do Automóvel Clube de Portugal como uma explicação para o aumento do número de mortos. "Foi uma decisão catastrófica. Perdeu-se a unidade de corpo, o que provocou a desmobilização total dos guardas", avalia Carlos Barbosa.

Sugerir correcção