A Grécia

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A Grécia pode destruir não só financeira, mas politicamente, a União Europeia. O que não deixa de ter uma certa justiça poética, porque a Grécia foi metida quase à força na "Europa" por puras razões políticas. Até Estaline, na famigerada divisão que fez com Churchill do império de Hitler, reconheceu que 100 por cento da Grécia ficava para o Ocidente. Na guerra civil que veio imediatamente a seguir à paz, entre a resistência comunista grega e a resistência "democrática", Estaline não se mexeu; e foi Tito quem ajudou os comunistas. A Inglaterra, essa, lá esteve, como lhe competia, do outro lado, enquanto a miséria não a obrigou a pedir à América que a substituísse. Com essa pequena transferência de responsabilidades se inaugurou a "doutrina de contenção global do comunismo".

Nada qualificava a Grécia para "entrar" na "Europa" (e a seguir, no euro), excepto o seu valor estratégico. Primeiro, como um "tampão" contra o expansionismo russo, depois como plataforma logística para qualquer eventual conflito no Médio Oriente. De resto, a "democracia" grega nunca passou de uma espécie de mascarada com partidos semi-tribais (o avô e o pai de Georgios Papandreou chegaram antes dele a primeiros-ministros), eleições falsificadas, um Parlamento inoperante e, de quando em quando, um pronunciamento ou uma ditadura militar. Mas, como se tratava de cercar a URSS e de conservar uma "presença" forte no Mediterrâneo, ninguém protestou a sério e erro atrás de erro a Grécia apareceu sentada à mesa do euro, com a sua miséria e a sua voracidade, precisamente na altura em que já não era necessária.

Agora, por medo de um provável contágio, a "Europa" pretendeu salvar os gregos de si próprios. Quem dorme com um cão apanha pulgas. Depois de muita discussão lá se resolveu "perdoar" um quarto (ou um terço) da dívida e esportular alguns vinténs mais à indigência local a troco de um novo programa de austeridade. Calado e quieto, e à frente de um regime em ruínas, Papandreou pôs na rua os chefes militares (não se sabe ainda precisamente porquê) e convocou um referendo. O referendo dirá se a Grécia quer ou não quer a "Europa", a que nunca pertenceu e que nunca, aliás, a tratou como um membro "normal". Fora o problema do contágio (sobre o qual há mil opiniões), a Itália, Espanha e Portugal não perderiam nada em pensar que a sua presença na UE também se deve a uma estratégia morta e enterrada - e se tornaram dispensáveis.

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