O mundo, afinal, tem melhorado mais do que pensávamos

Média do índice de desenvolvimento humano cresceu 41 por cento em 40 anos. Noruega, Austrália e Nova Zelândia lideram. Alterações climáticas são ameaça

O mundo não é um mar de rosas, e as desigualdades deitam, por vezes, tudo a perder. Mas tem evoluído muito mais do que por vezes pensamos: só três dos 135 países sobre os quais existem dados completos, República Democrática do Congo, Zâmbia e Zimbabwe, têm hoje um índice de desenvolvimento humano (IDH) inferior ao de 1970, revela o Relatório sobre o Desenvolvimento Humano 2010, ontem divulgado.

Nos países considerados, que representam 92 por cento da população do planeta, a esperança de vida aumentou de 59 para 70 anos, a escolarização de alunos do ensino básico e secundário passou de 55 por cento em 1970 para 70 por cento em 2010 e o produto interno bruto (PIB) duplicou e ultrapassa a média dos dez mil dólares.

O relatório anual, o mais abrangente dos que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) começou a divulgar em 1990, conclui que a média mundial do IDH - que combina esperança de vida, instrução e rendimento - aumentou 18 por cento desde 1990 e 41 por cento desde 1970. E por isso os autores não têm dúvidas em escrever que mundo é "um lugar muito melhor hoje do que era em 1990 - ou em 1970".

"Muitas pessoas de todo o mundo alcançaram melhoramentos profundos em aspectos fundamentais das suas vidas. Em geral são mais saudáveis, possuem mais instrução, têm mais riqueza e maior poder para eleger e responsabilizar os seus líderes do que nunca", indica o documento.

Os primeiros lugares do índice de desenvolvimento 2010, que agrupa 169 países em quatro categorias - muito elevado, elevado, médio e fraco -, são ocupados por Estados que habitualmente surgem nas posições cimeiras deste género de estudos: Noruega, Austrália e Nova Zelândia. Na cauda da tabela estão o Níger, a República Democrática do Congo e o Zimbabwe, que encerra a lista. No relatório deste ano, foram introduzidas modificações: o rendimento nacional bruto substitui o PIB, para incluir transferências do estrangeiro e ajuda externa ao desenvolvimento, e na educação o número de anos de escolaridade substitui a taxa bruta de escolarização.

Os progressos verificam-se globalmente em todas as regiões do planeta, ainda que em diferentes graus. A esperança de vida, por exemplo, aumentou 18 anos nos Estados árabes entre 1970 e 2010, mas apenas oito anos no conjunto da África subsariana, fustigada pela sida, que levou a um recuo dos indicadores de saúde para níveis inferiores aos de há 40 anos na República Democrática do Congo, Lesotho, África do Sul, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabwe. Também em três Estados saídos da antiga União Soviética a esperança de vida caiu para níveis inferiores aos de 1970: Bielorrúsia, Federação Russa e Ucrânia.

Diversidade de caminhos

Os maiores avanços no índice de desenvolvimento humano registaram-se nos últimos 40 anos tanto em países com "milagres de crescimento económico", caso da China, Indonésia e Coreia do Sul, como noutros que se distinguiram graças aos outros indicadores - Omã, Nepal e Tunísia são exemplos. "Esta perspectiva revela que o progresso na saúde e na educação pode impulsionar o sucesso no desenvolvimento humano", observa o relatório.

"Os dados dos últimos 40 anos revelam uma enorme diversidade de caminhos para o desenvolvimento humano; não existe nem modelo único, nem receitas uniformes que garantam o sucesso", comentou Hellen Clark, a administradora do PNUD, que fez a apresentação do relatório 2010, juntamente com o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e o prémio Nobel da Economia Amartya Sen.

Ainda que o documento adopte um tom de satisfação pelos avanços conseguidos na saúde, educação e acesso a bens e serviços, tempera esse registo com o alerta de que essa evolução pode não ser duradoura devido às alterações climáticas. "É sem dúvida o factor que perturbará mais profundamente o futuro, travando o progresso do desenvolvimento humano tal como a história o traça", admite.

O relatório 2010 estreia o índice multidimensional de pobreza (MPI), o qual dá conta da existência de 1,7 mil milhões de pobres em 104 países considerados, mais 400 milhões do que o número obtido a partir dos critérios do Banco Mundial, que classifica pobres os que vivem com menos de 1,25 dólares por dia. O novo indicador, desenvolvido por especialistas da Universidade de Oxford, avalia um conjunto de dez critérios que vão da disponibilidade de combustível para cozinhar ao acesso à saúde e educação. A estimativa tinha já sido divulgada em Julho.

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