Críticos dizem que o PISA só avalia conhecimentos básicos e esquece as competências formais

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OCDE tem influenciado as políticas de ensino em vários países RUI GAUDÊNCIO

Socióloga francesa sustenta que avaliação desenvolvida pela OCDE está a orientar os sistemas de ensino apenas para os resultados e a matar a "matriz da educação"

Seja pelo tipo de questões que coloca, como pelos efeitos que provoca, o estudo PISA está longe de reunir unanimidade. O que se mede nesta avaliação internacional? Apenas conhecimentos básicos, que são úteis para a vida quotidiana, e não as competências por disciplina que, normalmente, um aluno de 15 anos já terá adquirido, apontam investigadores norte-americanos. Segundo eles, ao comparar sistemas de ensino com base neste tipo de avaliação pode-se estar a desvirtuar resultados.

Apesar de testar conhecimentos básicos, países como a França, Alemanha, Estados Unidos ou Reino Unido não têm obtido resultados no PISA "compagináveis" com a sua influência e nível de desenvolvimento. Svein Sjoberg, da Universidade de Oslo, adianta uma explicação: os testes aplicados pela OCDE são muito diferentes daqueles a que estes estudantes estão habituados. Muitos alunos também não os levam a sério, acrescenta.

Mudança em Inglaterra

Em Inglaterra, contudo, os resultados nos testes de literacia matemática contribuíram já para a alteração do modelo de avaliação.

No PISA, os alunos do sexo masculino têm obtido resultados superiores ao dos exames nacionais, onde estão em queda acentuada. A conclusão retirada foi a de que os alunos não sabem menos, mas sim que estão a ser mal avaliados: desde o ano passado, privilegiou-se a avaliação feita em exames. O comportamento e os trabalhos de casa praticamente deixaram de contar para a nota final.

A socióloga francesa Nathalie Bulle, considera que o PISA está a modificar as políticas de ensino, impondo-lhes uma "orientação normativa". Trabalha-se sobretudo para os resultados e isso pode contribuir para aumentar as desigualdades, afirma. Segundo ela, o declínio nas escolas francesas, registado desde a década de 80, tem por detrás políticas que têm seguido as orientações da OCDE e que se apoiam "numa lógica comparativa redutora" que está a matar a "matriz da educação formal". O investigador norueguês chama a atenção para o facto de muitas das propostas de resolução não serem divulgadas, o que impede aferir o que de facto falhou.

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