"Esta é a prova dos nove: os nossos alunos sabem mais"

A OCDE veio dar razão ao Governo, acredita o primeiro-ministro, que quer continuar a investir no sector, mesmo com menos dinheiro

O primeiro-ministro, José Sócrates, é um homem feliz. Os resultados dos alunos portugueses nos testes do PISA vieram dar razão às medidas que foram tomadas na área da educação, na anterior legislatura. "O que me espanta mais é verificar que finalmente alguém disse ao país: "Vocês estão a fazer bem". As nossas elites deixaram-nos sozinhos. Nestas batalhas onde se decide o futuro, a ministra [Maria de Lurdes Rodrigues] esteve sozinha", recorda.

Os resultados dos alunos portugueses no PISA foram uma boa notícia?

Foi "a" boa notícia!

No início da legislatura anterior era claro para o Governo que era preciso mudar a posição de Portugal no PISA?

Não foi nada por causa do PISA [que se tomaram medidas]. Foi por razões de cidadania, de igualdade de oportunidades e por razões económicas.

Quais foram as medidas que mais contribuíram para a melhoria destes resultados?

Em 2005, a primeira medida foi as aulas de substituição e levámos com uma greve dos professores aos exames e com todos os partidos contra. A segunda medida foi a escola a tempo inteiro.

Mas os alunos com 15 anos não beneficiaram dessas medidas.

Isso é verdade, [outros] irão beneficiar. Qual foi a grande mudança? O ensino profissional e não desistir dos que queriam abandonar a escola. Entre 1995 e 2005 baixámos o abandono e insucesso escolar e o ensino profissional foi a medida que contribuiu para isso. Há 20 anos que a OCDE nos dizia: "Por favor, tenham ensino profissional." Nós, no fundo, reparámos um erro da democracia. Foi a medida mais poderosa que tivemos. Fomos acusados de sacrificar a qualidade do ensino e a conclusão mais evidente deste relatório é que a inclusão foi conseguida sem nenhum prejuízo da qualidade porque o que demonstra é que os nossos alunos sabem fazer mais e mais coisas, como diz o relatório. Esta é a prova dos nove: os nossos alunos sabem mais.

Os resultados do PISA vêm dar razão às medidas levadas a cabo por Maria de Lurdes Rodrigues?

Acho que foi feita justiça. O Governo esteve sozinho, persistindo nas mudanças e essas têm consequências que estão à vista de todos. As escolas e os professores funcionam melhor.

Porque trabalham mais? Porque sentem a coacção, através da avaliação do seu desempenho?

Coacção! Sobre a avaliação dos professores travámos uma batalha política, tivemos contra nós todos os partidos. O CDS juntou-se ao PCP, do BE ao PSD...

E até do PS.

Não. Houve alguns, mas não tinham mandato do partido. A questão na educação foi sempre lutar pelo interesse geral das famílias, dos alunos e dos professores. Estes percebiam bem que a ausência de regras na avaliação prejudicava os bons professores.

Durante a anterior legislatura esteve sempre ao lado da ministra?

Eu não estive ao lado da ministra, mas das políticas. Eu não fui solidário, eu bati-me por elas.

O próximo Orçamento do Estado vai ser de austeridade. Até que ponto os cortes não vão comprometer os futuros resultados no PISA?

Uma das coisas mais portuguesas é: "Melhorámos agora, mas vamos cair no próximo". Não! Eu acho que vamos continuar a melhorar e devemos fazer melhor com os recursos existentes, temos que os alocar bem. Vamos continuar a requalificar as escolas. O plano tecnológico vai continuar. O sistema tem que ser mais eficiente.

Mário Nogueira dizia que o primeiro-ministro tinha dado os parabéns aos professores por estes resultados, mas que a recompensa era cortar-lhes nos salários. Concorda?

Os cortes derivam das circunstâncias e não foi só aos professores. Os professores têm uma ética de responsabilidade que prevalece. A motivação de um professor não é apenas o dinheiro. Não podíamos reduzir os salários a todos menos aos professores. Isso era uma vergonha para os próprios. Eu gostaria de não ter baixado os salários, mas infelizmente, para defendermos o financiamento da nossa economia, tínhamos de o fazer e a todos.

Estão previstas mudanças nos currículos do 3.º ciclo que fazem cair a Área de Projecto e o Estudo Acompanhado, áreas onde os alunos trabalhavam Matemática e Língua Portuguesa. Não é um retrocesso?

A decisão não foi tomada em função dos cortes, mas por razões pedagógicas. É melhor ser a escola a decidir se há Estudo Acompanhado e este deve ser orientado para as disciplinas onde há mais necessidades e para os alunos que mais precisam.

A actual ministra diz que o caminho é continuar a subir no ranking do PISA. O que é que vai ser feito nesse sentido?

Estes resultados deram credibilidade a um movimento que vai prosseguir, de nos concentrarmos em educar uma nova geração com melhores resultados, menos saídas da escola. O que há para fazer é muito e são pequenas coisas. É preciso ter sempre presente o interesse geral e nunca o sacrificar a interesses corporativos.

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