Obama oferece à Índia a promessa de um lugar no Conselho de Segurança da ONU

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Obama e Manmohan Singh: "uma parceria indispensável" Fotógrafo

EUA e Índia são a "parceria indispensável" do século XXI, diz o Presidente norte-americano em Nova Deli, num discurso que também é uma mensagem para a China

No último dos três dias de visita à Índia, Barack Obama ofereceu, no seu discurso no Parlamento, o presente diplomático mais cobiçado pelas autoridades indianas: o apoio às suas ambições de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, quando este for reformado, para deixar de ter como membros permanentes apenas as cinco primeiras potências nucleares.

"Nos próximos anos, espero que tenhamos um Conselho de Segurança que inclua a Índia como membro permanente", disse o Presidente dos EUA, aplaudido entusiasticamente pelos deputados (ver declarações de Obama sobre economia na pág. 24).

Mas este reconhecimento não se dá de mão beijada, sublinhou Obama. "Permitam-me sugerir que com um maior poder vem uma maior responsabilidade." Desta forma, criticou implicitamente o apoio que a Índia tem dado à junta militar birmanesa, e sublinhou as responsabilidades que o país, como potência nuclear, tem de assumir quanto à proliferação atómica, devido aos contactos que tem mantido com o Irão, realçou o jornal britânico The Guardian.

A "grande ideia"

Este apoio não se deve concretizar em nada muito palpável em breve, pois a reforma do Conselho de Segurança "é um processo complicado e difícil, e pode demorar um tempo significativo" até a Índia se tornar um membro permanente, disse o subsecretário de Estado para os Assuntos Políticos, William Burns, citado pelo sitePolitico.com. Os EUA apoiaram também o Japão para um lugar permanente.

No entanto, a ideia de que EUA e Índia são a "parceria indispensável" do século XXI, como foi Obama dizer ao Parlamento em Nova Deli, sossegou muitos observadores políticos e diplomáticos, tanto na Índia como nos EUA. Havia quem temesse existir uma fixação demasiado grande na China, e se atormentasse por não haver "uma grande ideia" a orientar as relações entre as duas grandes democracias - como o acordo no nuclear civil estabelecido por George W. Bush, que deu um lastro de legitimidade à Índia nesta área.

Mas entre os especialistas em política internacional indianos também há críticos desta ambição por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU - que poderia nem ter direito de veto, pois os EUA, a Rússia, a China, o Reino Unido e a França podem vir a decidir não abdicar da exclusividade desse direito.

Há quem defenda, na Índia, que o G20 - que terá uma reunião esta semana, na Coreia do Sul, na qual Obama vai participar, bem como o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh - é um fórum mais adequado para o país de 1,2 mil milhões de habitantes, que é uma potência económica emergente, se afirmar.

Mas há também um outro nível de leitura possível, que é o de saber a quem se dirige a mensagem desta manifestação de amizade dos EUA à Índia, para além de Nova Deli. Essa terceira parte é sobretudo a China, o maior rival económico da Índia, e o outro gigante nuclear asiático, e provavelmente o maior opositor à eventual entrada de Nova Deli no Conselho de Segurança - ou até mesmo do Japão, dizem analistas de política internacional.

"O Presidente Obama fez um belo discurso no Parlamento indiano - e também para a China e para o Paquistão, que claramente eram públicos-alvo também", escreveu no seu blogue o comentador do New York Times Nicholas Kristof. "A ênfase em como a democracia não impede um país em desenvolvimento de crescer economicamente é sobre a China. Bem como o sublinhar dos laços entre as duas grandes democracias [EUA e Índia] foi um contraste estudado com as relações sino-americanas, em especial após a atribuição do Nobel da Paz a Liu Xiaobo."

Hoje, o Presidente Obama chega à Indonésia, onde viveu na infância.

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