Pela grafia dupla

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No PÚBLICO de anteontem, graças à Cláudia Carvalho e à Isabel Coutinho, estava a solução do desacordo ortográfico. Descobriram-nas nas palavras de dois inteligentes amigos meus: as de António Emiliano, da Universidade Nova de Lisboa, e as de António Feijó, da Faculdade de Letras de Lisboa. Os portugueses gostam tanto de obedecer como de pôr os outros a obedecer. Brigam muito, mas acham que a briga deve acabar por acabar. Quando isso acontecer, uns ganham e os outros perdem. A partir desse momento, os que perdem devem obedecer aos que ganham. Numa coisa, secretamente sinistra, todos concordam: uma vez estabelecida a "norma" (pense na ópera de Bellini), todos devem obedecer.

Porquê? É difícil de ler o Miguel Sousa Tavares no Expresso que segue o AO? Ou o Rui Tavares aqui no PÚBLICO, que não segue? Claro que não. Habituemo-nos então às duplas grafias. Concordemos em discordar.

Nos dicionários registem-se as duas variantes, com a devida indiferença. Daqui a cinquenta anos, ver-se-á quais são as grafias mais e menos populares. É assim que a ortografia irá mudando: naturalmente, mas saudavelmente constrangida por apenas duas versões, ambas correctas ou corretas. Eu leio a última palavra como se rimasse com "forretas" e significasse quem corre e foge mal haja um problema. Mas percebo que haja quem leia "correcto" como analmente retentivo. E exija castigo correcional nas nádegas, somando o cu e o recto.

Vivamos em Desacordo Ortográfico.

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