Enriquecimento de urânio em central subterrânea agrava pressão internacional sobre o regime iraniano

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O HANDOUT/REUTERS

O regime iraniano rejeitou as críticas feitas por europeus e americanos à entrada em funcionamento de uma segunda central de enriquecimento de urânio - uma iniciativa que pode acelerar a entrada em vigor de novas sanções contra o país, fazendo subir ainda mais a tensão no Golfo Pérsico.

"Todas as actividades nucleares do Irão, incluindo o enriquecimento de urânio [nas centrais] de Natanz e Fordow, estão sob controlo dos inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica e as suas câmaras mantêm uma vigilância de 24 sobre 24 horas", disse Ali Soltanieh, representante de Teerão junto da AIEA, face ao desagrado com que foi recebida a notícia do início da laboração em Fordow.

A existência da central era conhecida desde 2009, altura em que o Irão confirmou informações recolhidas por secretas ocidentais de que estava construir, sob uma montanha, uma nova instalação nuclear. O local tem capacidade para três mil centrifugadoras e, por ser subterrâneo, fica a salvo de um eventual ataque (hipótese nunca descartada por Israel para impedir Teerão de ter bombas atómicas).

Reagindo à notícia de que as centrifugadoras estão já em funcionamento, os EUA denunciaram "uma nova escalada na violação das obrigações em matéria nuclear" por parte do Irão e a diplomacia francesa lamentou este atropelo "adicional e particularmente grave do direito internacional".

"Estas reacções são exageradas e têm motivações políticas", ripostou Soltanieh, sublinhando que as actividades previstas para Fordow "têm um objectivo pacífico e humanitário". As centrifugadoras da unidade estão preparadas para enriquecer urânio a 20% - a concentração usada na central de Teerão que produz isótopos para tratamentos cancerígenos, mas que os peritos ocidentais dizem colocar o país mais próximo do nível necessário para o fabrico de bombas atómicas (90%).

Prevê-se, por isso, um aperto do cerco ao país. A União Europeia antecipou para dia 23 a reunião em que será aprovado o embargo ao crude iraniano, alegando questões de agenda, e admite-se o regresso do programa nuclear iraniano ao Conselho de Segurança da ONU. Ontem, o secretário do Tesouro norte-americano, Tim Geithner, chegou a Pequim para tentar obter o apoio chinês ao reforço das sanções e, depois de ter criticado as acções unilaterais da UE e dos EUA, a diplomacia russa mostrou-se "inquieta" com as notícias de Fordow. "Somos obrigados a constatar que o Irão continua a ignorar os pedidos internacionais para responder às preocupações sobre o seu programa nuclear", disse à AFP uma fonte dos Negócios Estrangeiros de Moscovo.

É, no entanto, improvável que Teerão retroceda, apesar dos sinais de que as sanções estão a agravar a situação económica do país. Na segunda-feira, o Supremo Líder iraniano, o ayatollah Ali Khamenei, disse num discurso ao país que "as sanções impostas pelos inimigos do Irão não terão qualquer impacto no país".

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