Centenas marcham em Lisboa contra as touradas

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"Cultura sim, tortura não", gritou-se ontem nas ruas de Lisboa daniel rocha

Protesto foi precipitado pela criação de uma secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura, decidida há dois meses pela ministra da tutela

Não esperaram pelo Verão. É nessa época que usualmente sai à rua uma manifestação mais densa pelos direitos dos animais. Mas, este ano, uma decisão da ministra da Cultura precipitou o protesto e centenas de pessoas marcharam ontem do Campo Pequeno à Assembleia da República, em Lisboa, sobretudo contra as touradas.

Há dois meses, a ministra Gabriela Canavilhas criou, no Conselho Nacional de Cultura, uma secção de tauromaquia, para regular a actividade. A iniciativa agradou aos defensores das touradas, mas levantou uma onda de protestos no bloco oposto. "Isto é unicamente para galvanizar a actividade", afirma Rita Silva, presidente da associação Animal, que liderou a marcha de ontem.

"A tauromaquia é parte de uma cultura, mas de uma cultura ultrapassada. A mutilação genital feminina também", alega Rita Silva.

A principal palavra de ordem do protesto, porém, era peremptória: "Cultura sim, tortura não".

"A tourada é uma arte de tortura", reforça Paulo Borges, coordenador do grupo que está a constituir, em Portugal, o Partido pelos Animais. Na sexta-feira, os promotores do partido entregaram uma petição ao presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, contra a criação da secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura. Cerca de 8200 pessoas subscreveram o documento, no espaço de dois meses.

A manifestação de ontem procurou amplificar as vozes contra as touradas e em prol dos animais. "Nunca houve tanta gente na rua por esta causa", disse Paulo Borges.

No ponto de encontro, vendiam-se pins e camisolas. E promoviam-se outras causas à volta dos animais. O Campo Pequeno era, ontem, território dos vegetarianos. "Sou desde os dez anos", disse Sara Feio, de 25. A holandesa Saskia Oskam, de 33, começou mais cedo, aos nove. "Agora a minha mãe também é", afirmou Saskia, membro do Comité Anti-Touradas da Holanda. Não há espectáculos tauromáquicos nos Países Baixos, mas há muitos turistas que viajam para Espanha. O comité conseguiu, por isso, convencer as agências de turismo holandesas a não incluírem as touradas nos seus pacotes de férias em Espanha.

De Braga veio Mário Martins, de 66 anos, da Fundação Trepadeira Azul, uma organização não-governamental. "Somos contra as touradas e contra a caça", disse. "A caça é perseguir, torturar e matar os animais."

A questão das touradas é uma entre outras que a associação Animal quer ver resolvida. No próximo mês, a associação pretende apresentar uma proposta de legislação, que compila tudo o que está disperso e põe em prática outras medidas, como o fim dos animais nos circos. Na fila para a aquisição das camisolas, com a moldura neo-árabe do Campo Pequeno como pano de fundo, uma manifestante mostra-se mais radical. "Isto devia ser demolido", diz.

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