Nuno (quase) sozinho nas feiras de Espanha

Todos os anos, cinco vezes por ano, Nuno Ricou Salgado viaja para Espanha para estar presente numa das várias feiras de artes performativas que ali se realizam, e que são uma oportunidade para os criadores mostrarem o seu trabalho aos programadores. Leva consigo exemplares do Pisa-Papéis, um roteiro - que produz - destinado a artistas, programadores e produtores, com informação sobre artistas, espectáculos e companhias. Paga as suas despesas, e distribui gratuitamente o guia. "Isto é serviço público", resume.

O grosso livro quadrado e colorido, com contactos e apresentação de trabalhos dos artistas portugueses, é, geralmente, o mais próximo que existe de uma presença de Portugal nestas feiras. "A nível do Estado, não há qualquer estratégia no sentido de ter uma presença estruturada. Os apoios da Direcção-Geral das Artes [DGArtes] para a internacionalização são o parente pobre, são muito curtos."

A nível individual, são poucas as estruturas que investem na deslocação - o Chapitô, onde Nuno já trabalhou, é uma delas, e alguns programadores, como Mário Moutinho, do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica - mas o responsável pelo Pisa-Papéis está convencido de que o esforço compensa, embora não tenha resultados imediatos e tenha que ser continuado e persistente.

Quando chega às feiras como a Fira Tàrrega ou a MMVV (Mercat Música Viva de Vic), encontra os outros países organizados. "Sejam o Estado ou os privados a promover as coisas, lá estão as barracas da Holanda, da Bélgica, da Alemanha, do Brasil. São associações e grupos mas com suporte a nível dos ministérios." São acções que envolvem os ministérios da Cultura dos respectivos países, em coordenação com os da Economia e dos Negócios Estrangeiros. Um exemplo: na feira de Vic, "a divulgação da música argentina era feita por um funcionário do Ministério da Economia". O equivalente para Portugal "seria a AICEP fazer a promoção dos nossos produtos culturais".

Perante a quase total ausência de iniciativas do género, Nuno Ricou decidiu organizar, através da sua associação cultural, a Procur.arte, uma feira de artes performativas mais virada para a bacia do Mediterrâneo, a Formas, que se realiza em Tavira. Depois da Formas 2008, no ano passado a feira foi suspensa, e volta a realizar-se este ano, entre 11 e 14 de Maio. O apoio é exclusivamente da Câmara de Tavira, explica. Nem seria possível de outra forma: "Os apoios da DGArtes para projectos anuais são anunciados, e ainda de forma provisória, no final de Abril. Imagine o que é preparar um plano de trabalho anual a partir de finais de Abril, inícios de Maio. É começar a preparar o ano a partir de meio do ano. Não é possível". A.P.C.

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