A MAC saiu à rua porque "o lugar onde se nasce nunca devia morrer"

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O protesto convocado pelos profissionais da maternidade alastrou rapidamente através das redes sociais Miguel Manso

Cerca de mil pessoas protestaram ontem em Lisboa contra o encerramento da Maternidade Alfredo da Costa, no dia em que o primeiro-ministro e o Presidente da República também se referiram ao assunto

Cerca de um milhar de pessoas protestaram ontem contra o encerramento da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa. A iniciativa começou com um cordão humano à volta do edifício da MAC mas que rapidamente se transformou em dois, devido ao elevado número de pessoas, entre utentes e trabalhadores da própria unidade lisboeta, que fizeram questão de participar neste protesto empunhando cartazes como "O lugar onde se nasce não devia morrer", "A MAC é vida jamais poderá ser destruída" ou "Não tirem à cidade esta maternidade"

Muitos dos presentes - alguns casais levaram os seus bebés - nasceram ou deram à luz nesta unidade de saúde de Lisboa, num protesto que começou por ser convocado pelos profissionais da maternidade mas que rapidamente alastrou através das redes sociais. Na origem da manifestação está a decisão do Governo de encerrar aquela que é a maior maternidade do país, algo que o ministro da Saúde, Paulo Macedo, já veio dizer que acontecerá ainda nesta legislatura.

Vários dos presentes partilhavam ainda os depoimentos de pessoas que, apesar de não poderem estar no protesto, fizeram questão de manifestar a sua solidariedade. Manuela Canha foi uma delas. "Estou em Barcelos mas a causa merece o meu apoio", lia-se num dos muitos cartazes. Teresa Almeida, professora na Universidade Nova de Lisboa, estava em Paris mas também quis participar no protesto através de uma amiga contra o encerramento da maternidade. "Não posso estar presente mas acho inadmissível esta medida", fez questão de transmitir, por seu lado, Valentina Loução, de Setúbal.

Depois de muitas palmas e das "ondas" que se costumam ver em estádios de futebol, as pessoas concentraram-se à porta da maternidade, onde, já com a ajuda dos Homens da Luta vestidos de mulher e "grávidos", entoaram vários slogans contra a intenção do ministério de encerrar a quase centenária unidade de saúde.

"E o que eu quero é a MAC aberta" deu o mote para as invectivas contra o ministro da Saúde que se seguiram. "Sr. ministro, conhece a MAC?" ou "Macedo, escuta, a MAC está em luta" foram dois dos gritos de ordem, que culminou até com o cântico do hino nacional.

Passos pronuncia-se

Também o primeiro-ministro pronunciou-se ontem pela primeira vez sobre o assunto. Falando aos jornalistas em Maputo, Moçambique, Pedro Passos Coelho justificou a decisão de encerrar a maternidade com o objectivo de "aproveitar o melhor possível as equipas técnicas que estão em funcionamento" naquela unidade hospitalar.

"O ministro da Saúde explicou bem o enquadramento de toda a reestruturação. O que se trata é de aproveitar o melhor possível as equipas técnicas que estão em funcionamento de forma a que elas possam prestar cuidados nas melhores condições às populações", afirmou o chefe do Governo, salientando que a MAC é "uma unidade histórica em Portugal que não pode ficar parada no tempo, tem de evoluir".

Para o primeiro-ministro, "o importante é que as pessoas que recorram aos serviços possam ser bem atendidas, atendendo a todas as contingências que possam acontecer, até porque hoje em dia há contingências que podem acontecer na Alfredo da Costa para as quais a maternidade não tem resposta adequada".

O Presidente da República também falou sobre o tema mas não quis tomar uma posição sobre o possível encerramento da maternidade "antes de conhecer a decisão do Governo". "O Executivo é aquele que, nos termos da Constituição, conduz a política geral do país e não devo neste momento, antes de conhecer a decisão do Governo sobre essa matéria, pronunciar-me. Apenas reconheço e devo reconhecer fortemente o seu contributo para a descida da taxa de mortalidade em Portugal", afirmou o chefe de Estado.

Na segunda-feira, o ministro da Saúde anunciou que a MAC vai encerrar até ao final da legislatura, mas não explicou o que vai acontecer ao edifício, tendo-se limitado a afirmar que o mais importante da MAC - o seu know-how e as equipas - serão mantidos. Num plenário realizado antes do cordão humano de ontem foi ainda decidido promover um desfile entre a Maternidade Alfredo da Costa e o Ministério da Saúde, no próximo dia 19, para tentar evitar o encerramento daquela unidade hospitalar. com Lusa

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