Casa Vítor Schalk e Vila Tânger

O quintal pegado a um condomínio

A Casa Vítor Schalk fica em frente à Monsalvat e insere-se também na malha urbana oitocentista do Monte Palmela. O projecto de 1915-19, segundo a portaria, apresenta afinidades com as restantes casas do arquitecto que estudou em Inglaterra e trabalhou na Alemanha, "sobretudo quanto às opções a nível dos materiais (designadamente no uso do tijolo no emolduramento de vãos), a nível das opções planimétricas, volumétricas e na continuidade do conceito de habitar pensado (e materializado) por Raul Lino". Os proprietários da Casa Vítor Schalk não estavam ontem disponíveis para falar ao PÚBLICO. Mas uma moradora no imóvel confessa não vislumbrar vantagens na classificação de interesse público. Embora salientando que se trata da sua opinião, que não vincula os donos, pergunta para que serve o novo estatuto de protecção se não impediu a construção de um condomínio pegado ao quintal da casa projectada por Raul Lino. E mais não quis dizer. Seja como for, a zona especial de protecção do conjunto das três casas agora classificadas abrange também o condomínio vizinho, o que pressupõe que qualquer alteração passa a estar sujeita a uma maior atenção por parte das entidades com responsabilidade na esfera urbanística e cultural.

"Enquanto pudermos, aguentamos"

A Vila Tânger foi projectada por Raul Lino por volta de 1900-1903, para o artista plástico Jorge Colaço, irmão do pianista que residiu na vizinha Monsalvat. Em 1937, a casa foi ampliada com um anexo acrescentado à fachada oeste. Mas mantiveram-se as características das quatro casas marroquinas: "Há em todas elas uma marcada sugestão alentejana e marroquina: na utilização do azulejo, na dinâmica estabelecida entre o interior e o exterior, nos jogos de luz e sombra, na utilização das varandas e dos alpendres", frisa a portaria do Governo. Maria Teresa Ávila, de 73 anos, habita a Vila Tânger com o marido, Antonino. A casa foi dos pais e destino de veraneio, mais tarde partilhada com o Caramulo, para onde o pai precisava de buscar terapia no sanatório local. Enquanto assistente social viu mundo e agora, reformada, diz-se satisfeita com a classificação do imóvel. "É a minha casa e o que me fazia pena era que um dia fosse deitada abaixo."

Só pecou por ser tardia. "Via-se o mar todo por ali fora. Agora só vejo um bocado no primeiro andar ou no sótão", queixa-se Maria Teresa, apontando o dedo para a barreira de apartamentos na rua de baixo. Os dois filhos preferem Lisboa, mas Teresa Ávila, na sala de estar decorada com pintura do pai e prateleiras de livros, não pensa em mudar de casa: "Enquanto pudermos, aguentamos." L.F.S.

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