TEMAS
Jardim de Infância Popular, Agualva-Cacém
Usar com livro
de instruções
No meio da confusão dos prédios altos e feios, nasceu um edifício de linhas direitas que é uma excepção à agressiva arquitectura de subúrbio - a mais comum junto às bermas do IC19, que liga Lisboa a Sintra.
Onde antes havia uma quinta enorme que foi tomada em 1974 por um "grupo de povo simples", que ocupou as instalações e ali criou o Jardim de Infância Popular (JIP), há agora um jardim público e o novo espaço do JIP, conta Leonor Vieira, directora da instituição.
A escola deixou as velhinhas instalações e há quatro anos que está num edifício desenhado por Nadir Bonaccorso e Sónia Silva, da nadir bonaccorso arquitectos associados. Em 2007, os arquitectos ganharam uma menção especial do Prémio Fassa Bortolo, em Itália, porque este é um edifício construído com preocupações bioclimáticas, explica Nadir Bonaccorso.
O edifício de dois andares alberga 143 crianças, do berço ao pré-escolar. As salas onde passam os dias são acolhedoras e quentes, apesar de lá fora estar frio. Das enormes janelas, que caracterizam o edifício, viradas para sul - "são como um hino ao sol", descreve Bonaccorso -, os meninos podem dizer adeus aos pais e estes podem vê-los a brincar nas casinhas de bonecas.
As janelas parecem estar suspensas no ar e têm vidros especiais. "É preciso um livro de instruções para usar", brinca Leonor Vieira, porque de Verão são abertas durante a noite, para ventilar, e de Inverno, durante o dia. As entradas de ar é que servem para climatizar o espaço.
O edifício permite a recolha da água da chuva para uso nas casas de banho e para rega. Tem painéis solares e pavimento radiante, que é aquecido pelo sol. As salas têm saída directa para o jardim público e, se não fossem as grades, pareceria que todo o espaço é do JIP.
"A escola é um projecto que pode fazer sonhar qualquer arquitecto, porque mete crianças e a criação de um espaço que tem que ser especial. A arquitectura pode influenciar não só o estudo, mas toda a vida do ser humano", acredita Bonaccorso.
O JIP é uma instituição particular de solidariedade social, com uma direcção constituída por pais e uma direcção pedagógica estável, que cumpre as orientações curriculares previstas pelo Ministério da Educação, mas de acordo com a visão dos pais. A lista de espera é grande. B.W.
Escola Soaresdos Reis, Porto
Salas de aula viradas para uma learning street
Funcionou num edifício destinado a habitação e, depois, numa antiga fábrica de chapéus. Mais recentemente, a Escola Secundária Artística Soares dos Reis, na freguesia do Bonfim, Porto, foi escolhida como escola-piloto para testar as intenções programáticas da Parque Escolar e isso foi o melhor que lhe podia ter acontecido. É agora uma escola moderna e luminosa, organizada em torno de uma learning street - para adoptar a expressão do arquitecto que a concebeu -, liberta de muitas das claustrofóbicas paredes de betão que a espartilharam durante tantas décadas.
O desafio que chegou ao gabinete do arquitecto Carlos Prata (autor do Edifício Transparente, no Porto, entre outros projectos) era olhar para as instalações da Escola Secundária Oliveira Martins, que tinha fechado as portas no dia 31 de Agosto de 2006, e decidir de que forma aquele edifício podia ser transformado para acolher uma escola de vocação artística.
O edifício tinha dois corpos independentes: um principal, destinado a aulas e serviços administrativos, e um segundo, destinado a refeitório e ginásio. Entre os dois, uma galeria exterior coberta que servia de recreio abrigado. O arquitecto optou por construir dois novos corpos articulados por uma galeria de distribuição, espécie de rua interior. "É para essa rua que se viram todos os espaços da escola, biblioteca, a secretaria, o espaço de refeições, o polivalente..." A solução adoptada permite que aqueles espaços "possam ser utilizados pela comunidade, fora dos tempos lectivos, sem devassar o resto da escola".
A ventilação e a iluminação natural das salas de aula foram outra das preocupações de Carlos Prata, a par da acústica. A criação de espaços de uso informal foi também aposta ganha. "Como a escola está equipada com rede wireless, além dos espaços mais tipificados e dos de circulação, criaram-se outros que podem ser apropriados pelas pessoas de maneira muito diferente e em função dos interesses de cada um." Tradução prática: um corredor pode ser espaço de passagem, mas também pode ser zona de leitura ou de trabalho.
No exterior, fugiu-se do tradicional asfalto - a forma mais barata de ter grandes áreas impermeabilizadas. "É um espaço verde, com sombras, zonas de estadia, umas impermeabilizadas e outras não, percursos de manutenção..."
Olhando para trás, Carlos Prata teria feito duas coisas diferentes. "A biblioteca, que se relaciona com o espaço de circulação com uma porta opaca, devia ser mais aberta, com envidraçados. Por outro lado, a cantina, que foi pensada tendo em conta um determinado número de refeições, começou a ser mais procurada, porque se tornou numa zona agradável, e precisava de ter outra dimensão." N.F.
Infantário de Bicesse, Cascais
Um lego para os mais pequenos
Ao princípio a ideia parecia ridícula, mas acabou por ser desenvolvida, tornando-se no projecto vencedor do concurso financiado pela autarquia de Cascais: e se o infantário fosse um lego? Este foi o ponto de partida de José Martinez Silva e Miguel Beleza, do Atelier Central, arquitectos, Lda.
Se quem está do lado de fora tem alguma dificuldade em imaginar os paralelepípedos com que brincava na infância, lá dentro, basta olhar para os tectos, ver as clarabóias redondas de vidro, por onde entra a luz natural, para os recordar.
O átrio do jardim-de-infância da Santa Casa da Misericórdia de Cascais é o elemento de ligação entre uma peça mais funcional, onde está a sala da direcção, a enfermaria, salas de arrumos e uma para receber as famílias, e a grande peça do refeitório e da cozinha.
Há uma outra peça, mesmo ao lado, a das salas das crianças. Por cima do corredor há outra, esta de encaixe, que é translúcida e deixa passar a luz natural, explica o arquitecto Martinez Silva.
As salas estão viradas para sul, a que fica mais longe da entrada é o berçário com copa de leite e fraldário, numa zona mais protegida do barulho e da confusão. À medida que o corredor se vai aproximando da entrada, as salas vão ficando maiores e acolhendo crianças mais velhas, dos três aos seis anos.
Todas as salas têm saída directa para a rua, para um espaço comum onde há uma horta e vários brinquedos. Uma pala com quatro metros protege o interior das salas da insolação directa e permite que as crianças possam brincar no exterior resguardadas do sol e da chuva. Também há iluminação indirecta através da luz que é reflectida no chão.
"Vou investir forte neste projecto", disse Martinez Silva, quando soube que ia ser pai. A filha mais velha acabou por ser das primeiras crianças a inaugurar o infantário. É ela que lhe sorri e o questiona com os olhos quando o vê, acompanhado pelo P2, durante a hora do lanche.
Dentro e fora das salas, as paredes estão forradas com desenhos - as obras-primas dos mais pequenos. No fim do corredor está a sala de movimento, onde está a decorrer a aula de música. Mesmo em frente, já junto à porta de saída, a biblioteca com parede de vidro, onde há a "hora do conto" e, à sexta-feira, os meninos levam um livro para os pais lerem em casa, explica a directora, Paula Noronha.
"Tivemos muita sorte com os arquitectos", diz a provedora, Isabel Miguéns. O infantário tem uma lista de espera que ronda as 400 crianças. B.W.
Escola Gabriel Pereira, Évora
Biblioteca
com vista sobre
a catedral
As oficinas que outrora estavam escondidas no fundo da Escola Secundária Gabriel Pereira, em Évora, estão hoje mesmo à entrada, com janelas rasgadas para o exterior, permitindo a quem está de fora ver o movimento lá dentro. A luz natural entra e poupa-se no consumo de energia. De resto, todas as portas das salas de aula têm vidros.
Os arquitectos João Lúcio Lopes e Carlos Lameiro pensaram um edifício completamente novo na zona nobre da antiga escola industrial, que hoje oferece o ensino profissional. Por cima das oficinas estão os serviços administrativos e a biblioteca. A Gabriel Pereira tem ainda dois campos de jogos, uma pista de atletismo com caixa de saltos, além do pavilhão desportivo com salas de ginástica e de esgrima.
O problema térmico da escola - de Inverno era demasiado fria e de Verão muito quente - foi solucionado com um sistema de climatização por geotermia, aproveitando a temperatura interior do solo. Para isso foi feito um buraco com oito metros de profundidade, que percorre 30 metros dentro da terra; com a ajuda de uma turbina, o ar é sugado, passa pelo subsolo onde estão 15.º C e é injectado nas salas de aula, ou seja, chega fresco no Verão e aquece o ambiente no Inverno.
Quanto às novas tecnologias, todas as salas têm computador e projector de vídeo. Também existe um quadro interactivo para cada três salas. Os tectos com protecção acústica melhoraram o ambiente, abafando o ruído.
"Esta nomeação é mais um factor que vem reforçar a imagem social da escola junto da comunidade, em particular da comunidade regional, mas também ao nível do país, pela visibilidade que pode fazer sublinhar o que de essencial aqui se busca permanentemente fazer: trabalhar aprendendo, ensinando, vivendo. Com seriedade, com rigor, mas com paixão", aponta Joaquim Félix, da direcção do estabelecimento de ensino. B.W.
Escola Passos Manuel, Lisboa
O velho liceu classificado
pelo Igespar
O antigo liceu Passos Manuel, em Lisboa, assinala, em Janeiro, os 100 anos de vida - e o 175.º aniversário da criação dos liceus. Mas a escola há muito que perdeu a importância que teve outrora. Hoje, a população escolar é mais pequena. E económica e socialmente mais desfavorecida do que aquela que existia nos tempos em que o Chiado era o centro da cidade.
A reabilitação deste estabelecimento de ensino, classificado pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), esteve a cargo dos arquitectos Vítor Mestre e Sofia Aleixo, com experiência na recuperação de património. A Escola Básica e Secundária Passos Manuel foi, de resto, das primeiras a ser recuperada no âmbito do programa da Parque Escolar.
O desafio dos dois arquitectos foi restaurar o velho edifício, sem intervir demasiado. Houve a preocupação de manter as janelas de madeira, embora tenham reforçado o vidro para abafar o barulho exterior; de descobrir azulejos iguais; de recuperar as portas, inclusive as das casas de banho com todos os pormenores - foi encomendada madeira antiga para fazer todos esses restauros. O chão dos dois claustros do velho liceu é feito em calçada portuguesa e manteve-se o mobiliário de origem.
Quando os arquitectos chegaram ao Passos Manuel, o espaço estava muito degradado. Hoje, o edifício histórico mantém-se e a mão dos arquitectos é visível na ampliação do refeitório, na zona técnica que lhe está associada, no polidesportivo e no campo de jogos que, apesar de estar debaixo do chão, está cheio de luz natural devido às enormes paredes de vidro. O mesmo acontece com o refeitório. B.W.