Bloco "esvazia" a sua moção e PSD já prepara a abstenção

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Partido de Passos promete uma posição clara na terça-feira daniel rocha

BE põe sociais-democratas e Governo no alvo. Passos convoca direcção e grupo parlamentar para terça-feira para clarificar posições

A moção de censura ao Governo anunciada pelo Bloco de Esquerda começa a ter um destino traçado: o "chumbo". E com a "ajuda" do próprio Bloco. Ontem, o líder parlamentar, José Manuel Pureza, admitiu, preto no branco, que esta é uma moção "contra a direita e contra quem governa com políticas de direita". Ao incluir o PSD no alvo da censura, tornou praticamente impossível o apoio do partido de Pedro Passos Coelho - um facto "anotado" por dirigentes sociais-democratas contactados pelo PÚBLICO.

Se o calendário não agrada de todo ao PSD, muito menos agradam os termos em que o Bloco põe a questão para a moção de censura a 10 de Março. Sob pressão, interna e externamente, para se definir rapidamente, o PSD reúne terça-feira à tarde a Comissão Política Nacional e o grupo parlamentar. E tudo ficará claro, é a garantia da direcção de Passos.

O PSD não define a sua estratégia em função dos outros e tomará uma posição muito clara na próxima semana, afirmam fontes do partido. Por outras palavras, os sociais-democratas preparam terreno para a abstenção.

Uma solução rápida era, aliás, defendida por muitos dirigentes do partido, incluindo os sectores cavaquistas e dentro do grupo parlamentar. Logo na noite de quinta-feira, dia em que Francisco Louçã anunciou a moção no debate quinzenal com José Sócrates, começaram a ouvir-se as vozes de quem defende que o PSD não deveria associar-se aos bloquistas e que não deveria prolongar o impasse, como o deputado Pacheco Pereira ou Luís Marques Mendes, ex-líder do partido. Santana Lopes também criticou a "brincadeira" do BE. Pela aritmética do Parlamento, onde o PS tem maioria relativa, o destino da moção está nas mãos dos 81 deputados "laranja".

Rangel cauteloso

Para Paulo Rangel, a decisão é, neste momento, "muito difícil" de tomar, face à "moção de censura ao retardador" anunciada pelo BE. "Se a decisão tivesse de ser tomada agora, o PSD devia abster-se, porque vivemos um momento muito sensível, mas não sei se daqui a um mês não ocorreram coisas que justifiquem outra atitude", afirmou ao PÚBLICO o ex-adversário de Passos Coelho à liderança social-democrata.

Como exemplos de factos que podem mudar a conjuntura aponta a subida das taxas de juro, os resultados da execução orçamental e as decisões sobre o fundo de estabilização do euro. "Porventura, haverá desenvolvimentos muito importantes", admitiu o eurodeputado. Em qualquer caso, Rangel defende que o PSD não deverá votar contra, porque isso seria "ratificar as políticas do Governo".

Do que não tem dúvidas é da censura que merece o Bloco por esta iniciativa: "O BE tenta, mais uma vez, tornar o país refém das suas estratégias durante um mês, o que é inadmissível. Mas revelou a sua face, ao fazer guerrilha política de total irresponsabilidade".

O deputado Matos Correia coloca a iniciativa do Bloco ao nível do fait divers e acusa Francisco Louçã de ter ganho os "tiques da política" que tanto prometeu "combater" quando chegou ao Parlamento e apontou contradições ao BE por se ter distanciado da eventual moção do PCP e ter apresentado uma esta semana. Matos Correia aconselha o partido a "não deixar-se ir atrás da agenda" do Bloco. "O PSD sabe o que fazer e tem a sua estratégia", disse ao PÚBLICO.

Depois de ter defendido que os deputados do PSD da Madeira deveriam votar uma moção de censura para derrubar o Governo, o líder madeirense Alberto João Jardim retirou qualquer apoio à do Bloco.

Ontem, já depois de ter sido noticiada a previsível abstenção do PSD, José Manuel Pureza deu uma conferência de imprensa no Parlamento. O deputado disse que a moção não é para facilitar a vida à direita e que será uma "crítica política" às medidas "de inspiração liberal, uma inspiração política de direita, e que têm sido responsáveis pela penalização da grande maioria da sociedade". Pureza afirmou que a decisão de apresentar a iniciativa foi tomada em comissão política, terça-feira, quatro dias depois de Louçã ter afirmado, no fim de uma reunião da Mesa Nacional, que não era oportuna uma moção de censura, que o PCP já admitira ponderar. com Leonete Botelho

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