Presidente da Bolívia foge de protestos em Oruro

O Presidente da Bolívia, Evo Morales, foi ontem forçado a desmarcar à pressa a sua presença numa cerimónia comemorativa da luta anticolonial na cidade mineira de Oruro, para evitar um encontro com manifestantes que protestavam contra a carestia do preço dos alimentos usando blocos de dinamite.

Um porta-voz governamental, Ivan Canelas, confirmou que o Presidente decidiu não participar no evento marcado para celebrar a vitória dos mineiros sobre os antigos colonizadores por não estar disposto a submeter-se ao que qualificou como "uma lamentável provocação". Oruro é a capital da província de Cercado, de onde Morales é originário.

A popularidade do líder indígena está em queda livre, e Morales encontra-se debaixo de forte pressão da sua base de apoio eleitoral por causa de uma crise de escassez de alimentos e do constante aumento de preço de bens essenciais. Os protestos têm-se sucedido na capital, La Paz, desde o início do ano, quando o açúcar desapareceu dos supermercados. O Presidente foi forçado a abandonar o seu plano para acabar com os subsídios aos combustíveis, farinha e açúcar (que, no entanto, deixou de ter um preço máximo de venda fixado pelo Governo) por causa da reacção negativa da população.

Ontem, além de Oruro, houve manifestações nas cidades de Cochabamba e Santa Cruz, esta última o principal reduto da oposição de Morales. Os manifestantes cortaram o acesso ao aeroporto da cidade, exigindo a extinção de uma agência governamental de produção alimentar que, segundo alegavam, é ineficaz e prejudica os empresários privados.

Numa intervenção perante o Fórum Social Mundial, esta semana em Dakar, Evo Morales exaltou as virtudes da nacionalização da exploração mineira ou petrolífera. "Todos os recursos de África deviam ser declarados recursos do Estado e geridos pelo Governo", declarou, acrescentando que "a experiência na Bolívia demonstra que quando o Estado assume o controlo dos recursos naturais para melhorar a situação da sua população, a mudança no mundo é possível".

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