Desta vez, o mundo viu as ondas gigantes em directo

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O sismo teve 8,9 de magnitude

Tanto o sismo do Japão como o tsunami têm muitas semelhanças com o que aconteceu em Lisboa em 1755. Só que agora o planeta pôde ver tudo em tempo real

Tinham passado só dois a três minutos desde que a crosta da Terra se rompera ao largo do Japão - causando um sismo de 8,9 de magnitude na escala de Richter, às 14h46 locais -, quando as autoridades japonesas enviaram as primeiras mensagem de aviso e alerta de um tsunami para a protecção civil. Indicavam, assim, as zonas que poderiam vir ser atingidas e as que deveriam mesmo ser evacuadas.

Nos três primeiros minutos em que se emitiram essas mensagens, baseadas no cálculo da localização e magnitude do sismo registado pelos instrumentos, também começaram a chegar os primeiros relatos dos efeitos observados (a intensidade) do próprio tremor de terra em várias regiões do país. Ao fim de cinco minutos, as autoridades já tinham previsto quando a primeira onda gigante, entre as várias que podem ocorrer num tsunami, chegaria às costas e com que altura.

Pouco depois, as estações submarinas do sistema de alerta precoce de tsunamis faziam observações da onda gigante gerada pela deformação do fundo do mar, que levanta toda a coluna de água até à superfície e é, por isso, muito destrutiva.

Apenas 20 minutos depois, a cidade de Sendai, a 130 quilómetros do epicentro, era atingida pela onda, que levava tudo à frente, espalhando destruição e morte. Numa praia de Sendai, a onda chegou com dez metros. Como era a cidade mais próxima do epicentro, foi a que sofreu mais.

Mas ao contrário do sismo de Samatra de Dezembro de 2004, o terceiro maior de sempre em termos de magnitude, seguido de um grande tsunami, desta vez o mundo pôde ver a chegada da onda em directo.

Em Portugal, eram 5h46 quando aconteceu o sismo do Japão, e pouco depois a geofísica Maria Ana Baptista, estava colada à televisão. "Com Samatra não tivemos acesso a estas imagens em tempo real. Quando deu na televisão, já a onda tinha chegado", realça esta investigadora do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa e do Instituto Geofísico do Infante D. Luiz. "A chegada da onda à costa do Japão é impressionante. Isto é inédito", diz. "Se não fosse o tsunami, provavelmente a catástrofe seria menor. Mas ainda é cedo para se saber."

Logo lhe passou pela cabeça: "E se isto fosse cá? As nossas construções não são tão boas. Em relação aos tsunamis, a nossa preparação não é com certeza tão boa."

Há anos que a geofísica, com outros investigadores, se bate pela criação de um sistema de alerta precoce de tsunamis em Portugal, mas sem sucesso. Afinal, o país já se viu confrontado, em 1755, com um dos sismos de maior magnitude - estimada em 8,7, ocupando o sexto lugar segundo os Serviços Geológicos dos EUA.

As semelhanças entre o que se passou agora no Japão e em 1755 são muitas, desde a magnitude e a distância do epicentro à costa até ao tsunami. Sendai e o Algarve estão à mesma distância dos respectivos epicentros, tal como Tóquio e Lisboa.

No caso do tsunami de 1755, que se abateu nas costas portuguesas, espanholas, marroquinas e até das Caraíbas, Maria Ana Baptista foi quem fez a primeira simulação. Só demorou 15 minutos até ao Cabo de S. Vicente, chegando com uma onda de dez metros. Após 25 minutos, atingia Oeiras, com seis metros, e avançava pelo estuário do Tejo. Passaram-se 90 minutos desde o sismo até à inundação de toda a zona ribeirinha de Lisboa, onde a água avançou 250 metros terra adentro. O Terreiro do Paço e o que hoje é o Cais do Sodré foram as zonas mais atingidas. Só o tsunami terá causado a morte a 900 pessoas na capital.

Mas, ainda hoje, Portugal "não está" preparado para os tsunamis. Em cinco minutos, o Instituto de Meteorologia (IM) consegue calcular a magnitude, a localização e a profundidade de um sismo e transmitir essa informação à Protecção Civil, que difundirá avisos à população. "Se a magnitude for superior a 6,5, se o epicentro for no mar e a profundidade for igual ou inferior a 30 quilómetros, o IM pode enviar uma mensagem à Protecção Civil. Mas é preciso que tenha nas suas atribuições legais essas funções", diz. "O Governo ainda não disse que Portugal vai construir o seu sistema de alerta. Tem havido outras prioridades."

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