Artistas das comemorações da República com sete meses de atraso nos pagamentos

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Reconstituição da revolta republicana falhada de 31 de Janeiro de 1891 ADRIANO MIRANDA

A comissão diz que "a situação já foi resolvida", mas os artistas continuam sem receber o pagamento pelos espectáculos que têm vindo a apresentar

O grupo de artistas a trabalhar para o projecto de dançaSolos com Convicção, parte da programação das comemorações do centenário da República, está há mais de sete meses sem ser pago. A Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República (CNCCR), que tem um orçamento anunciado de 10 milhões de euros, garante que os pagamentos estão em curso, mas, até ontem, nenhum artista foi remunerado.

Os atrasos duram desde o começo das apresentações dos espectáculos, em Fevereiro, e afectam, para além das coreógrafas, músicos convidados, figurinistas e técnicos. Inicialmente, a comissão garantiu que os pagamentos iriam ser efectuados só a partir da primeira actuação. Mas o prazo acabou por ser adiado. Depois, a CNCCR assegurou que pagaria o evento do dia 8 de Março, na Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa, mesmo tendo sido cancelado por causa do mau tempo. Tal não aconteceu. Só agora, em Junho, foi transmitido que a Academia de Produtores Culturais - produtora do espectáculo - já tem em sua posse o dinheiro, desde o dia 4 deste mês, para fazer os devidos pagamentos. Contudo, até ontem as transferências ainda não tinham sido efectuadas.

"Contaram-nos uma desculpa que a comissão não tinha dinheiro para nos pagar. Diziam-nos que eram erros burocráticos, que "amanhã" a situação se ia resolver", disse ao PÚBLICO o músico Vítor Rua. "Desde Novembro passado que estamos a trabalhar, sem recebermos os 200 euros por apresentação. Não temos culpa da incompetência da comissão e das suas falhas técnicas", desabafou o músico, que, em Maio, escreveu uma carta à CNCCR. Foi-lhe respondido que a situação iria ser resolvida.

Ainda nesse mês as cinco coreógrafas convocaram uma reunião na qual Fernanda Rollo, da CNCCR, garantiu que as transferências iriam ser efectuadas. "As razões que nos foram dadas é que não havia enquadramento jurídico para assumir a programação. No entanto, afirmaram que a primeira transferência iria ser feita", disse a coreógrafa Cláudia Dias.

Sem dinheiro para pagarem as despesas logísticas, algumas coreógrafas tiveram que cancelar espectáculos. Foi o caso de Cláudia Dias, que, por não ter dinheiro para pagar o transporte do material fonográfico do seu espectáculo para Loulé, se viu obrigada a cancelar o evento. "Colocámos a questão de não haver verbas para a circulação de peças, mas a Academia disse-nos que não tinham soluções a apresentar", explicou a coreógrafa.

"Nenhum artista gosta de renegar o seu trabalho", afirmou Vítor Rua. Mas "não temos dinheiro, nem para as viagens de comboio. Se nós cancelarmos os concertos, eles [comissão] dizem-nos que só estamos a prejudicar o nosso nome e profissão", acrescentou o músico.

Contactada pelo PÚBLICO, a CNCCR respondeu, em comunicado, que os atrasos se devem ao facto de o Orçamento do Estado só ter entrado em vigor a 29 de Abril, tendo "as verbas só começado a ser disponibilizadas em meados de Maio". "Quanto à Academia de Produtores Culturais, registou-se, de facto, um atraso na formalização do contrato, situação que já está, porém, resolvida", garantiu a comissão. Já a responsável pelo projecto, Madalena Vitorino, não quis fazer qualquer comentário.

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