Itália na rua, a favor e contra Silvio Berlusconi

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"Primeiro Mubarak, agora Berlusconi", gritou-se ontem em Roma ANDREAS SOLARO/AFP

Mulheres italianas querem restaurar "dignidade", bloggers exigem demissão e apoiantes do primeiro-ministro denunciam moralistas falaciosos

Os italianos saíram à rua este fim-de-semana, ora para atacar, ora para defender o primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, acusado pela Procuradoria-Geral de Milão dos crimes de abuso de poder e actos sexuais com uma menor de idade, em festas selvagens na sua residência privada.

O governante foi oficialmente indiciado há quatro dias e saberá antes do fim desta semana se o seu caso segue para julgamento sumário ou se os tribunais exigirão uma audiência preliminar para avaliar as provas contra si. Se for julgado e condenado, Berlusconi poderá enfrentar uma pena de prisão até 15 anos.

As organizações de defesa dos direitos das mulheres convocaram marchas para mais de 200 cidades do país, num movimento de protesto destinado a restaurar "a dignidade da mulher italiana", que na sua opinião foi posta em causa pelo comportamento do primeiro-ministro. As organizadoras insistem que o protesto não é político - mas vários membros dos partidos da oposição já confirmaram a sua presença.

Num manifesto intitulado Se não agora, quando?, mais de 50 mil mulheres denunciam a "indecente e repetitiva representação das mulheres como um mero objecto sexual" e, numa referência ao escândalo "Rubygate" (a partir do nome da prostituta alegadamente contratada por Berlusconi) rejeitam "a actual cultura em que uma mulher se põe bonita para ir a uma festa vender-se por uma noite".

Ontem pela manhã, os apoiantes de Berlusconi saíram à rua em Milão para atacar o "puritanismo e moralismo falacioso" dos seus adversários. À tarde, na capital Roma, foi a vez do chamado "Povo Púrpura", um movimento de bloggers italianos, exigir a demissão do primeiro-ministro. Batendo em tachos e caçarolas, seguindo a tradição napolitana, os manifestantes gritaram "Primeiro Mubarak, agora Berlusconi" e "Demissão, demissão, demissão".

Na sexta-feira, Berlusconi pediu a intervenção do Presidente de Itália, Giorgio Napolitano, para impedir o avanço do processo judicial. Os seus apelos não surtiram efeito, com Napolitano a sublinhar que a Constituição garante um "julgamento justo" a quem quer que seja acusado de crime.

Mas o Presidente italiano deixou um recado à hierarquia do sistema judicial, avisando que "qualquer tentação de provocar conflitos institucionais e campanhas mediáticas não levará ninguém à verdade e à justiça".

Numa entrevista com o director do diário Il Foglio (que já foi o seu porta-voz), Berlusconi voltou a atirar-se aos procuradores de Milão, que acusou de estarem a encenar um "golpe de Estado suave". "Como toda a gente, às vezes sou pecador", confessou. "Mas aqueles que pregam uma república da virtude, usando linguagem jacobina e puritana, têm em mente uma democracia autoritária. Eles querem ver-se livres de Berlusconi, ultrapassando a vontade eleitoral dos italianos que, na opinião desta elite arrogante e anti-democrática, são todos uns idiotas", considerou.

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