Perfil

Íris Godinho, 26 anos Trabalhadora-estudanteInês Gregório, 29 anos Trabalhadora precária

Íris foi à manifestação com um sorriso infantil, um casaco vermelho e um cartaz: "Eu tenho um sonho: ser feliz em Portugal." Estuda guitarra clássica na Escola Superior de Música de Lisboa, dá aulas e faz mais uns biscates. Recebe, por mês, 500 euros. Não chega para sair da casa da mãe e acha que nem tão cedo ganhará mais. Mas acredita que emigrar não é solução - daí o cartaz, explicava ontem, na Praça do Rossio, em Lisboa, já o dia ia longo e o protesto da Geração à Rasca superara as suas expectativas: "Não sabia se quem dizia que viria, de facto estaria aqui. Mas vieram. E vieram mais ainda", dizia com os olhos a brilhar. "Sem nenhum partido a organizar e, se calhar, por isso mesmo", continuava. Ontem, Íris disse o que muitos disseram: "Os partidos fazem falta, mas a mudança depende de nós." A.S.Inês Gregório vestiu um vestido vermelho. Não podia aparecer de qualquer maneira. Fora escolhida para porta-voz do protesto que ajudou a organizar no Porto. Desdobrava-se em entrevistas, como se fosse uma estrela, a rapariga de 29 anos que é licenciada em História da Arte e ganha 80 euros a dar aulas de teatro. Sentira "necessidade de exprimir descontentamento", de "fazer parte da mudança", e estava contente: "Isto é lindo! O momento mais alto foi quando o meu pai me encontrou e me pegou ao colo e desatou a chorar." Já fez "de tudo", inclusive trabalhar num barco 12 horas por dia, 80 dias sem folgar. "Não acho indigno trabalhar fora da área. O que eu acho indigno é trabalhar 55 horas por semana num café e ganhar 450 euros por mês." A.C.P.

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