Sócrates pede "cooperação institucional" ao novo Presidente

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Sócrates foi "dizer a Alegre que pode contar com o PS" ADRIANO MIRANDA

O líder do PS veio sozinho. O Bloco não apareceu. Alegre não se cansou de elogiar o primeiro-ministro. Mas sem ser "refém" de ninguém

José Sócrates cumpriu um "dever cívico e político" ontem à noite, em Castelo Branco, na sua estreia na campanha de Manuel Alegre. Mas as primeiras palavras do secretário-geral socialista afiguraram-se desenquadradas. Disse que estava ali para "dizer ao Manuel Alegre que pode contar com o PS nesta campanha eleitoral", mas ninguém viu dirigentes nacionais do partido e deputados estavam apenas dois (Marcos Sá e Jorge Seguro).

Sócrates estava também ali para fazer uma declaração de "amor ao Estado social, ao Serviço Nacional de Saúde, à escola pública e à segurança social pública". E para sublinhar que, apesar da "luta árdua e difícil" provocada pela crise económica, "o país" demonstrou anteontem, com a procura verificada no leilão da dívida soberana, que "não está de braços caídos, que não se ajoelha" - algo que contrariou o argumentário "daqueles que tinham dúvidas". E foi este o mote para refutar Cavaco Silva e as suas previsões de uma futura crise política. "Aqueles que nos últimos dias apenas falam de crise e instabilidade não prestaram um serviço ao país. Pelo contrário. Passaram dias, antes de um dia decisivo para o nosso país, a semear a incerteza e a dúvida", disse, preferindo não nomear o candidato apoiado pelo PSD e CDS.

Vaticinou ainda que "a História saberá registar quem estava à altura dos momentos decisivos e quem faltou à chamada para a defesa do interesse nacional", num auto-elogio mais ou menos discreto que continha também críticas a Cavaco e à direita. Mas Sócrates não foi muito mais longe nas acusações, ainda que implícitas, ao Presidente e candidato. Porque interessava-lhe mais salientar a necessidade de existir uma "cooperação institucional" entre os órgãos de soberania: "Um Presidente é eleito para presidir e não para governar. (...) Não pode deixar de afirmar sempre que lutará por uma cooperação institucional e que respeitará todos os outros poderes para trabalhar em nome do país." E prosseguiu: "Precisamos de um Presidente que garanta a confiança, a unidade, que puxe pelo ânimo do país."

As palavras do primeiro-ministro alentaram Alegre, que não se cansou de elogiar o primeiro-ministro: proclamou a "coragem e determinação" do seu "amigo e camarada"; disse ter gostado de o ver a "conversar em português, afirmando a internacionalização da nossa língua" com o "Presidente Lula"; e regozijou-se por "estar lado a lado com José Sócrates a defender o Estado social".

Palavras para o Bloco de Esquerda, que participou apenas com a presença de um assessor, quase não se ouviram. E quando se ouviram soaram mais a correcção: "Tenho muito orgulho e tenho a certeza que estão comigo milhares e milhares de socialistas, do Norte ao Sul do país, da Madeira e dos Açores. E também do Bloco de Esquerda, de muitos cidadãos independentes que se reconhecem nesta candidatura." Mas o candidato, reafirmou, não está "refém" dos partidos, como "acontece" com Cavaco, "um candidato de facção". "Sou um homem livre, um candidato independente", afirmou.

O ânimo de Alegre tinha também outra justificação, para além de ver Sócrates sentado na primeira fila de cadeiras: o pavilhão estava lotado, com "1600 pessoas", segundo a candidatura, e "1100", segundo os responsáveis pela banca de sandes de porco no espeto, contratados pela "câmara" de Castelo Branco, cujo presidente, o socialista Joaquim Mourão, também discursou ontem à noite.

Em Castelo Branco, Alegre teve direito a tudo: uma multidão trazida em camionetas até do distrito da Guarda, bombos, ranchos, e uma manifestação contra os cortes no ensino particular e cooperativo.

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