Obama defende construção de mesquita na Baixa de Manhattan

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Algumas famílias de vítimas do 11 de Setembro não aceitam a mesquita TIMOTHY A. CLARY/AFP

Presidente americano intervém após semanas de debate por causa de centro religioso perto do Ground Zero

O Presidente norte-americano, Barack Obama, interveio com força no debate sobre os planos para erguer uma mesquita a dois quarteirões do World Trade Center, em Nova Iorque, dizendo que a oposição é uma atitude que vai contra os valores da América.

Mas no dia seguinte a ter proferido o discurso num jantar de iftar, a refeição de quebra do jejum do Ramadão, na Casa Branca, Obama comentou as suas próprias palavras, sublinhando à estação de televisão CNN que não estava a falar da ideia por trás do projecto: "Não comentei, nem vou comentar, a sensatez de tomar a decisão de pôr ali uma mesquita."

Na véspera, Obama tinha-se centrado na defesa da liberdade religiosa:

"Como Presidente, acredito que os muçulmanos têm o direito de praticar a sua religião, tal como todas as outras pessoas neste país. E isso inclui o direito de construir um centro de oração e comunitário em propriedade privada na Baixa de Manhattan", disse Obama. "Estamos na América, e o nosso compromisso com a liberdade religiosa deve ser inabalável."

Obama pediu ainda que as pessoas se concentrassem no inimigo. "Vamo-nos lembrar contra quem estamos a lutar", afirmou, segundo uma transcrição do pequeno discurso publicada no site do Washington Post. "Os nossos inimigos não respeitam qualquer liberdade religiosa. A Al-Qaeda não é o islão - são uma grande distorção do islão. Esses não são líderes religiosos - são terroristas que mataram homens e mulheres e crianças inocentes", continuou, acrescentando que a Al-Qaeda matou em todo o mundo mais muçulmanos do que pessoas de outras religiões.

Uma organização de famílias de vítimas do 11 de Setembro reagiu com indignação perante as palavras assertivas do Presidente: "Barack Obama abandonou a América no local onde o coração da América foi partido há nove anos, e onde os seus valores verdadeiros foram mostrados para todos verem", afirmou, num comunicado, Debra Burlingame, co-fundadora das Famílias de 9/11 para uma América Segura e Forte. "Agora este Presidente declara que as vítimas do 11 de Setembro têm de carregar mais um fardo... Estamos estupefactos."

Já o Conselho para as Relações Americo-Islâmicas elogiou o discurso de Obama. "Esperamos que as suas palavras sirvam como encorajamento aos que estão a desafiar o crescente nível de islamofobia na nossa sociedade".

Os protestos contra a construção da mesquita a dois quarteirões do Ground Zero, o local onde desabaram as torres gémeas do World Trade Center a 11 de Setembro de 2001, aumentaram depois de ter sido dada a aprovação final ao projecto por uma comissão de planeamento da cidade de Nova Iorque, que recusou dar ao edifício actualmente no local o estatuto de local histórico.

A mesquita foi defendida por vários líderes religiosos da cidade e pelo presidente da câmara, Michael Bloomberg. Mas a opinião popular parece ser outra: numa sondagem recente da CNN, 68 por cento dos inquiridos diziam ser contra a construção.

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