Três centenas de pessoas saíram à rua em Albufeira contra a "caça à multa" da GNR

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Desidério Silva diz que se quebrou a confiança entre GNR e população PAULO PIMENTA

Em Janeiro foram autuadas 600 pessoas, o dobro do habitual em Agosto, quando a cidade está cheia de turistas

A GNR de Albufeira lavrou 600 multas de trânsito em Janeiro, mais do dobro das que habitualmente aplica em Agosto. Para a população, o que se passou no mês passado foi uma "caça à multa" e daí até a uma manifestação de revolta foi um passo. Ontem, cerca de três centenas de pessoas concentraram-se à porta da câmara, onde foram entregar um documento contra a "caça à multa". E acabaram por receber o apoio do presidente da autarquia, que considera ter sido "quebrada" a relação de confiança entre a (GNR) e a população.

Desidério Silva (PSD) disse que há sinais de instabilidade social na rua e pediu que lhe fosse apresentado "um rosto" que traduzisse aquele "descontentamento". A manifestação apanhou o autarca a meio de uma reunião do executivo, mas Desidério Silva interrompeu os trabalhos e desceu à praça para ouvir o protesto. "Este processo [manifestação] serve claramente para abrir os olhos", afirmou, sugerindo que a situação é conhecida dos comandos da GNR. "Espero que tenha a partir de agora algum resultado", sublinhou, em declarações ao PÚBLICO. "Fale com o maior da GNR, senhor presidente!", gritava Jorge Oliveira, entre a multidão que se acotovelava à porta dos paços do concelho, para se abrigar da chuva. "Isto é uma vergonha!", insistia. A seu lado, outro manifestante exibia um cartaz em que se pedia "stop nas multas".

No manifesto de "descontentamento e revolta" entregue ao autarca, os signatários denunciam o comportamento de um sargento e outros militares, que passam pelas ruas em carros civis, "apontam matrículas e, após alguns dias, as pessoas recebem as multas em casa". Afirmam que quando os autuados se deslocam ao posto, para pedirem explicações sobre a transgressão, são "recebidos com arrogância, com um tom de voz para intimidar". "Usam ameaças a fim de nos coagir a não reclamarmos da multa", lê-se no documento.

Um dos queixosos, Ferreira Santos, sublinhou em declarações ao PÚBLICO que foi esse o ambiente que encontrou quando pretendia saber "em concreto" a razão de ter sido multado, à porta de casa, na Rua da Figueira, junto ao posto da GNR. "Só estamos a aplicar a lei", respondeu um militar graduado.

Em diferentes contextos, o presidente da Câmara de Albufeira tem vindo a pedir repetidamente junto da administração central um maior reforço policial, em nome da necessidade de defender a boa imagem do turismo. A resposta que obteve chegou no passado mês de Agosto, com a intensificação da fiscalização na área do trânsito. Resultado: um recorde de cerca de 2000 multas em seis meses. Por outro lado, os crimes de furtos em residências e viaturas aproximaram-se dos 3000 em 2010. Nos anos anteriores a média rondou os 2000.

Presidente pede cooperação

O autarca defende que a prioridade, em termos de segurança, deve ser dirigida para a "prevenção e combate à criminalidade". Porém, o sentimento da população é o de que não é isso o que está a acontecer, daí a manifestação de ontem - sem liderança, mas com um significativo número de presenças - reflectindo, no entender do autarca, o estado de espírito da população. "Espero que volte a cooperação [com a GNR]", observou o presidente da câmara, destacando a necessidade de um "regresso à normalidade".

O manifesto ontem entregue denuncia comportamentos que, alegadamente, não se coadunam com o estatuto da GNR. Por isso, Desidério Silva, membro da direcção nacional do PSD, sustenta que deve existir "uma partilha de confiança entre a sociedade civil e as forças de segurança e quando essa partilha é quebrada, é complicado". Foi o que sucedeu em Albufeira? "Os dados apontam para isso nalgumas situações", conclui o autarca.

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