Três prémios de arquitectura para o Porto

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Bar dos alunos da FAUP foi utilizado na Queima das Fitas de 2008 ©

O siteArchDaily premiou três projectos na Área Metropolitana do Porto como edifícios do ano de 2010. Diogo Aguiar e Teresa Otto usaram caixas compradas no IKEA a dois euros

Se se traçar uma linha que vá da esquina da Rua de Correia de Sá com a Avenida da Boavista, no Porto, até à Rua de Ofélia Cruz Costa, na Agudela (Matosinhos), o traço que se fizesse não teria mais de vinte quilómetros de extensão. Nesta curta distância, porém, encontram-se três dos edifícios do ano de 2010, ontem revelados pelo site de arquitectura ArchDaily.

Num dos extremos da linha está o Edifício Vodafone, dos arquitectos José António Barbosa e Pedro Lopes Guimarães, vencedor na categoria de Arquitectura Institucional. No outro, está a Closet House, de Marta Costa e Henrique Pinto, que arrebatou o prémio para o melhor projecto de interiores. E, pelo meio, no Parque da Cidade do Porto, esteve em 2008, durante a Queima das Fitas, um bar temporário da autoria de Diogo Aguiar e Teresa Otto, que venceu a categoria Hotéis e Restaurantes.

Estes são, refira-se, os três únicos edifícios portugueses premiados pelos leitores do conceituado website (na corrida havia mais quatro projectos nacionais, dois do Porto, um da Madeira e um em Lisboa.), havendo ainda a coincidência de serem todos produto da chamada Escola de Arquitectura do Porto. José António Barbosa, Pedro Lopes Guimarães, Marta Costa, Diogo Aguiar e Teresa Otto estudaram todos na Faculdade de Arquitectura da cidade.

"Sem bairrismos ou regionalismos, isto é o reconhecimento de uma instituição que ensina Arquitectura com grande qualidade, pondo ênfase no desenho, no empenho e no trabalho", disse ao PÚBLICO José António Barbosa, um dos autores do Edifício Vodafone: um prédio que parece saído de um terramoto, resultado de um concurso lançado em 2006 entre 50 gabinetes de arquitectura.

O arquitecto recebeu a notícia do prémio enquanto fazia fisioterapia (partiu uma perna, o que, em algumas culturas, significa boa sorte) e viu a distinção como um prémio pelo "muito sofrimento físico e intelectual que um projecto destes implica". "Foram muitas noites em claro", contou.

O mais surpreendente dos prémios é, sem dúvida, aquele que foi atribuído a Diogo Aguiar e Teresa Otto pelo bar da Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitectura do Porto na Queima das Fitas de 2008. Venceram numa categoria em que havia resorts luxuosos e grandes nomes da arquitectura mundial em competição - e, revela Diogo Aguiar, na sequência de uma brincadeira de amigos, que divulgaram o projecto num blogue. Daí para a frente funcionou o efeito viral das redes sociais na Internet e o bar temporário acabou por chegar à lista dos finalistas do ArchDaily.

Ainda assim, Diogo Aguiar - que, tal como Teresa Otto, concluiu o curso de Arquitectura em 2008 - recebeu a notícia do prémio com "grande surpresa". "Resultou de uma votação de pessoas em todo o mundo e isso é muito agradável", disse ao PÚBLICO, acrescentando que a base do projecto são 420 caixas de plástico que custam, na IKEA, dois euros cada (o edifício Vodafone custou cerca de 12 milhões...), iluminadas, à noite, por luzes LED.

Desde o final do curso, os dois jovens arquitectos (agora separados por 300 quilómetros) têm continuado a trabalhar em conjunto e já receberam convites para reeditar o bar da Queima das Fitas e para participar num workshop, no México, sobre intervenções temporárias. "Este prémio dá alguma projecção e temos que tentar a nossa sorte em todo o lado, até porque as condições que nos oferecem para trabalhar em gabinetes de outras pessoas não são as melhores", disse Diogo Aguiar ao PÚBLICO.

A terceira dupla premiada é constituída por Marta Costa (arquitectura) e Henrique Pinto (tecnologia audiovisual, automação e domótica). Transformaram uma casa de 44 metros quadrados num lar perfeitamente útil e habitável, com todas as comodidades, rentabilizando espaços com o recurso à tecnologia. "A casa é o resultado de muitas experiências que fomos fazendo", disse ao PÚBLICO Marta Costa.

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