Cavaco pede aos jovens empenho de antigos combatentes
Francisco Louçã, coordenador do Bloco de Esquerda (BE), acusou ontem o Presidente da República de estar em "guerra com o passado", devido ao facto de Cavaco Silva ter desafiado os jovens a empenharem-se em "missões e causas essenciais ao futuro do país" com a mesma coragem e "determinação" dos militares que participaram há 50 anos "na guerra do Ultramar".
Numa cerimónia de homenagem aos antigos combatentes, ontem, em Lisboa, Cavaco disse: "Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar." Não existe "causa maior" do que dedicar o esforço e a iniciativa "ao serviço da nação e dos combates que é necessário continuar a vencer para promover um futuro mais justo, mais seguro e mais próspero", prosseguiu o Presidente, citado pela agência Lusa.
Louçã não gostou do que ouviu e, na sua página na rede social Facebook, escreveu que as declarações do Presidente da República sobre a guerra colonial, "nas quais pretendeu "distinguir a intervenção militar" e elogiar o "desprendimento e determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar", constituem um nada recomendável exercício de reescrita da história". "Cavaco Silva está em guerra com o passado. Só as- sim se compreende que compare as Forças Armadas de hoje com as da ditadura e do colonialismo, no que foi uma guerra injusta e condenada por todas as instâncias internacionais", acrescentou.
O deputado bloquista argumentou que "os jovens de hoje não têm nenhum exemplo a recuperar do "empenho" de quem foi para uma guerra, suicidariamente mantida por uma ditadura, sem poder dizer uma palavra sobre o assunto". E continuou: "Os militares que o puderam fazer, aliás, pegaram em armas para devolver a democracia e poder de decisão aos portugueses, um acto libertador que levou a liberdade a quem se batia pela sua autodeterminação noutro continente." Para Louçã, "era esse o exemplo que hoje importava invocar aos jovens que nasceram em democracia e paz, e não a "determinação" forçada por um regime ditatorial que acabou sem deixar saudade".
Na sessão que assinalou os 50 anos do início da guerra em África, que decorreu no Forte do Bom Sucesso, o Presidente da República sublinhou ainda que o país deve "reconhecimento" aos antigos combatentes, notando que, "para lá da memória, impõe-se o reconhecimento de todos os que, pela sua acção na defesa de Portugal, sofreram no corpo e na alma o preço do dever cumprido".
"São merecedores do nosso profundo respeito", acrescentou, saudando também "com especial apreço" os militares de etnia africana que de "forma valorosa" lutaram ao lado dos portugueses.