Amado diz que Portugal está a tentar vender dívida no Qatar

Ministro dos Negócios Estrangeiros contradiz declarações de Sócrates, que garantira que a dívida portuguesa "não foi discutida"

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, que acompanhou o primeiro-ministro José Sócrates na visita ao Qatar, disse ontem à SIC que Portugal está a tentar vender dívida soberana a investidores deste país. "Acredito que os ministros das Finanças tenham falado sobre isso", precisou Luís Amado. Horas antes, Sócrates garantira que a possibilidade de venda da dívida portuguesa ao Qatar "não foi discutida".

"Não discutimos [a dívida], discutimos as oportunidades de investimento do Qatar em Portugal e a presença das empresas portuguesas" neste país, declarou o primeiro-ministro.

À pergunta recorrente que lhe tem sido colocada, Sócrates afirmou que "não foi com essa intenção" com que chegou ao Qatar, mas "para relançar a economia portuguesa", admitindo que as autoridades do país do Golfo Pérsico, que visitou ontem pela primeira vez, "olham para o programa de privatizações como oportunidades de investimento".

A compra de dívida soberana não faz parte dos planos tradicionais de países como o Qatar e os Emirados Árabes Unidos, mas o presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) espera que isso mude. "Requer muita persistência e, neste sentido, esta visita é muito positiva", afirmou Faria de Oliveira.

O líder do banco público integra a delegação governamental e empresarial que o primeiro-ministro levou ao Médio Oriente. Em declarações ao PÚBLICO garantiu que "vai insistir na possibilidade de estes Estados se interessarem na colocação de dívida".

Faria de Oliveira reconhece que os fundos soberanos como os do Qatar preferem investir em dívida empresarial. Nesse sentido, a CGD vai aproveitar os três dias da missão para procurar "a diversificação das suas fontes de financiamento e a antecipação do road show que tem marcado para o Extremo o Médio Oriente nos próximos tempos."

O presidente da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, que também integra a comitiva de Sócrates, disse, por seu lado, estar a estudar fontes adicionais de fornecimento, sobretudo de gás natural. E nega que a empresa esteja com excesso desta matéria-prima, devido a uma maior oferta no mercado. "A Galp não tem nenhum problema de cumprimento dos contratos de gás natural, [cujas alíneas obrigam à compra, mesmo que o gás não seja no momento necessário]." A Galp tem contratos recentes com a Rasgaz, gasista do Qatar. A primeira, de 130 mil toneladas, ocorreu em Dezembro passado. O Qatar é um dos maiores exportadores mundiais de gás natural liquefeito.

Ferreira de Oliveira escusou-se a falar sobre as tensões accionistas que se vivem neste momento na Galp, reementendo o assunto para os investidores. Quanto ao presidente da REN, declarou que tem duas missões: "Mostrar que a REN está no programa de privatizações" e "explicar o investimento feito em infra-estruturas nos últimos anos com a abertura do sector". Está sobretudo em causa a separação de actividades e o livre acesso de terceiros a elas, assuntos que "têm suscitado interesse no Qatar e no Abu Dhabi.

No primeiro de três dias de missão governamental e empresarial ao Médio Oriente, o primeiro-ministro, José Sócrates, assegurou que "Portugal vem para ficar" e valorizou o país como uma economia "moderna e europeia", citando como exemplos os sectores da energia, das infra-estruturas, construção, TIC e turismo.

A aposta assumida pela delegação governamental no primeiro dia foi captar o interesse das entidades do Qatar para o plano de privatizações previsto para este ano, nomeadmente EDP, REN e TAP.

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