Jaime Gama tem "a sensação de que Beja está a desaparecer do mapa"

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Mais de 15.000 pessoas subscreveram petição entregue no Parlamento ANTONIO CARRAPATO

CP irredutível com a suspensão do Intercidades directo até Lisboa. Presidente da Assembleia da República preocupado com isolamento do Alentejo

A CP mantém-se irredutível: o comboio Intercidades directo entre Beja e Lisboa está mesmo suspenso. Foi esta a resposta dada pela administração da transportadora ferroviária aos representantes do movimento que contesta o fim daquele serviço e que é composto por autarcas de Beja, Alvito, Cuba, Viana do Alentejo e milhares de cidadãos.

As duas partes reuniram-se anteontem e, no fim, o presidente da Assembleia Distrital de Beja, Bernardo Loft, reconheceu que as expectativas de Beja saíram frustradas com a "intransigência" da administração da CP. A empresa foi igualmente clara quanto ao projecto de electrificação da linha até Beja: o Governo nunca oficiou a CP nesse sentido, embora não descarte essa possibilidade.

Face a este cenário, o movimento de contestação, que já realizou duas manifestações em Beja e entregou nesse mesmo dia uma petição no Parlamento, com mais de 15.000 assinaturas, propôs uma alternativa para evitar que os passageiros oriundos de Beja tenham de fazer transbordo para o Intercidades Lisboa-Évora, na estação de Casa Branca, quando aquela ligação for retomada. Mas a CP considerou essa solução "inviável". A empresa revelou mais flexibilidade na ligação Beja-Funcheira, que já esteve para ser suspensa a 1 de Fevereiro, mas manteve-se em funcionamento e agora "está a ser equacionada", podendo ser fechada por ter pouca procura.

As conclusões da reunião com a CP não foram nada "animadoras" acentuou um dos membros do movimento, Jorge Caetano. Contrastam com os resultados promissores das reuniões tidas com todos os grupos parlamentares com assento na Assembleia da República. Todos eles, sem excepção, se mostraram receptivos às reivindicações "legítimas" de Beja.

O próprio presidente do Parlamento, Jaime Gama, disse ter ficado "surpreendido" com o elevado número de assinaturas da petição, tecendo um comentário que deixou Florival Baiôa, membro do movimento de cidadãos apreensivo: "Tenho a sensação de que Beja está a desaparecer do mapa."

Do lado do PS, a deputada Ana Paula Vitorino sustentou, porém, que as aspirações de Beja têm de ser encaradas no "quadro de contenção orçamental que vivemos". O deputado Jorge Costa (PSD) acusou, por seu lado, o Governo de não ter definido prioridades para a rede ferroviária nacional e elaborado "um plano estratégico" para a região alentejana que enquadrasse as ligações ferroviárias e rodoviárias. Pelo PCP, João Ramos frisou que o seu partido já apresentou um "projecto de resolução" que defendia a manutenção do Intercidades, iniciativa que "foi chumbada" com os votos contra da bancada do PS e as abstenções do PSD e CDS. Heitor de Sousa (BE) e Hélder Amaral (CDS) mostraram-se disponíveis para levar a petição ao plenário do Parlamento.

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