Expulsões de ciganos põem Sarkozy e Barroso a gritar

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Sarkozy com o Presidente romeno, Traian Basesc... Fotos: PHILIPPE WOJAZER/REUTERS

O Presidente francês foi defender a posição do seu país a Bruxelas, mas apenas se aprofundou a disputa, com uma discussão inédita

a Durão Barroso e Nicolas Sarkozy a discutirem, durante o almoço, em Bruxelas, por causa da expulsão dos imigrantes ciganos por Paris? Parece algo inusitado, mas foi isso que contou o primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borissov, e o relato foi confirmado por outras pessoas presentes ontem no almoço de trabalho do Conselho Europeu - cuja agenda foi completamente tomada de assalto pela polémica que opõe a França a Bruxelas.

Para o Presidente francês, não se passou nada de mais: "Expus francamente, e fortemente, o que a França pensa. Mas continuamos a trabalhar com o senhor Barroso sem qualquer problema. Mas se alguém manteve a calma e se absteve de fazer comentários excessivos fui eu", garantiu Sar-kozy, numa conferência de imprensa a meio da tarde, claramente ainda com os nervos à flor da pele.

"Os gritos eram tão fortes que se ouviam na outra ponta do corredor", contou um diplomata europeu à AFP.

Perante os jornalistas, o Presidente francês garantiu que vão continuar a ser desmantelados acampamentos ilegais de ciganos e os estrangeiros em situação irregular não deixarão de ser colocados em aviões de regresso aos seus países de origem.

Sarkozy insistiu na ofensa feita à França pelas opiniões "excessivas" da comissária europeia Viviane Reding, que aludiu às deportações da II Guerra Mundial quando se referiu às expulsões de ciganos romenos e búlgaros (cidadãos europeus) de França. "É uma ferida, é uma injúria."

O presidente da Comissão Europeia não comentou a discussão que teve com Sarkozy - que o primeiro-ministro luxemburguês, Jean-Claude Juncker, classificou como uma troca de argumentos "máscula e viril". Mas na conferência de imprensa final da cimeira declarou serem "inaceitáveis" as discriminações contra as minorias étnicas.

Tal como a maioria dos líderes europeus, voltou a reconhecer que as palavras da comissária Reading terão sido "exageradas". Na quarta-feira, "a própria o reconheceu, outros deviam pensar em fazer o mesmo", disse Barroso, numa crítica velada em direcção à França.

O Governo de Paris está a ser posto em causa por Bruxelas não apenas pela sua prática em relação aos ciganos, que desrespeitará a legislação europeia, como também por tudo indicar ter mentido à Comissão Europeia, ao dizer que não perseguia esta minoria em particular - uma circular revelada pela imprensa na sexta-feira passada foi a prova material dessa intenção. Dentro de duas semanas, a Comissão deverá decidir se procede judicialmente contra a França.

Franceses contra UE

Mas de toda esta agitação nos corredores de Bruxelas, que levou ao adiamento dos temas em agenda para esta reunião dos chefes de Governo dos Vinte e Sete, saiu alguma decisão? Angela Merkel, a chanceler alemã, sumariava o sucedido de forma simples: "Não falámos aprofundadamente [sobre as expulsões de ciganos], mas não se pouparam palavras", citava-a a edição on-line do jornal espanhol El País. "Sarkozy apresentou a sua forma de ver as coisas."

A maneira de Sarkozy ver as coisas parece em sintonia com a maioria dos franceses, a acreditar numa sondagem divulgada ontem à tarde pelo jornal Le Figaro (próximo do Presidente): 56 por cento criticam a posição da Comissão Europeia relativamente à expulsão dos imigrantes ciganos. Mas, sem surpresa, esta posição é maioritária entre o eleitorado de direita, as classes mais baixas e entre os mais velhos, sobretudo os maiores de 60 anos.

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