WikiLeaks revela segredos fiscais de dois mil privilegiados com a ajuda de Rudolf Elmer

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Julian Assange recebe de Rudolf Elmer dois discos com informação PAUL HACKETT/REUTERS

O ex-director do banco suíço Julius Bar, Rudolf Elmer, entregou informações a Julian Assange que são apenas "a ponta do icebergue"

Nada como o segredo bancário para fugir aos impostos. Essa é a conclusão do caso que, desde 2002, tem oposto, nos tribunais, o banco suíço Julius Bar ao seu ex-director nas ilhas Caimãs, Rudolf Elmer.

Ontem, Elmer anunciou em conferência de imprensa, em Londres, com Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, que dois discos de informação bancária secreta de 2000 entidades "com muito dinheiro" serão divulgados "dentro de semanas".

Há "dinheiro a ser desviado por instituições financeiras, multinacionais e indivíduos para ser escondido", afirma Elmer. E entre eles estarão, segundo o jornal The Observer, "aproximadamente 40" do Reino Unido, EUA e Ásia. O que vai ser tornado público "é apenas a ponta do icebergue. "Há bancos ingleses, americanos." Há todo um sistema pode detrás e isso é que assusta", afirma Rudolf Elmer num filme no site que criou (www.swisswhistleblower.com). "Vamos tratar esta informação como qualquer outra que recebemos, por isso assumo que irá haver uma revelação total", garantiu Assange.

O risco da revelação desta informação tem assustado desde 2002 o banco suíço. Segundo o site da Swissinfo, propriedade da maior empresa de comunicação social da Suíça, o caso parece ter começado quando, no início deste século, informação sigilosa começou a aparecer nas autoridades fiscais norte-americanas. O mesmo site conta que os donos do banco Julius Bar obrigaram então os funcionários a passar por um detector de mentiras. Doente na altura, Rudolf Elmer, subdirector nas ilhas Caimãs desde 1994, deixou de se submeter aos testes. E o banco despediu-o.

Mas Elmer tinha então acesso a mui- ta informação. E começou a usá-la em sua defesa. Já na Suíça, em 2003, arranjou trabalho num hegde fund. O Julius Bar deixou-o em paz desde que não processasse o banco por usar o detector de mentiras. Mas pressionou-o. Contratou uma agência de detectives. Seguiam-no de carro, vigiavam-lhe a ca- sa, ficavam à frente da escola da filha. Viviam em medo permanente, afirma. Em 2005, Elmer interpôs uma acção judicial em Zurique. Foi nessa altura que um CD com informação sem nomes surgiu na comunicação social e o banco forçou a revista à casa de Elmer. Ficou preso por 30 dias e só foi libertado porque o banco se recusou a abrir os seus ficheiros.

Em 2006, Elmer tomou a ofensiva. Acusou o banco de perseguições e informação começou a aparecer no WikiLeaks. No início de 2008, o Tribunal de São Francisco emitiu - a pedido do banco - um mandado para encerrar o WikiLeaks. O seu fecho arrebatou protestos e a informação surgiu noutros sítios. Meses mais tarde, o mesmo juiz voltou atrás. Mais recentemente, Elmer criou o seu próprio site. "Quero também apoiar governos e instituições na luta contra a sonegação fiscal, corrupção e outros negócios imorais", explica. "A Suíça cobre com o segredo bancário actividades criminosas. Isso é amoral e antiético", declara o suíço. Por questões de segurança, vive na ilha Maurícia e amanhã abre-se a sessão do julgamento na Suíça.

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