Os medos da guerra civil continuam vivos

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Brecha da Trinidad, na muralha antiga de Badajoz, por onde entraram as tropas nacionalistas a 14 de Agosto de 1936

Do outro lado da fronteira, os filhos dos vencidos continuam a resistir à erosão do tempo e insurgem-se contra o branqueamento das memórias. Viagem de estudantes portugueses aos locais da guerra civil espanhola e da repressão franquista. Por Carlos Pessoa (texto) e Enric Vives-Rubio (fotos)

Aurora Navas é uma mulher de corpo miúdo e voz sussurrante. Tem um ar frágil, mas a sensação de vulnerabilidade dissipa-se quando começa a falar da guerra. É impossível saber se as coisas se passaram exactamente como conta ou quantas vezes narrou a sua história de dor e ausência até ela se constituir no presente testemunho. Mas isso pouco importa, porque há uma força genuína que emana da sua história de vida, marcada pela violência do que viu ou ouviu contar ao longo de décadas. Desta vez, quem está ali para a ouvir são alunas de mestrado em História Moderna e Contemporânea do ISCTE. Vieram de Lisboa numa visita de estudo, organizada por Luísa Tiago de Oliveira (professora da disciplina de História Oral) para abordar de forma prática as questões suscitadas pelo cruzamento das fontes escritas com os testemunhos orais.

Ao certo, há a curta idade de Aurora quando perdeu a mãe. O mês de Abril de 1939 ia a meio e a guerra civil acabara há poucos dias. As armas tinham-se calado e o silêncio do medo impunha a sua lei implacável aos vencidos. Aurora tinha apenas dois anos e meio quando três falangistas de Castuera, localidade da Estremadura espanhola a cerca de 140 quilómetros de Badajoz, vieram uma noite procurar pela mãe, Matilde Morillo Sánchez, antiga professora primária republicana.

O pai, Antonio Navas Lora, chefe dos Correios de Castuera e dirigente socialista durante a II República, fez parte do último contingente de fugitivos que consegui abandonar o país. A mãe, por seu lado, decidiu regressar à terra de família com as três filhas e um filho, numa penosa viagem por um país em ruínas, a partir do centro de Espanha. Quando chegou, foi para descobrir que a casa familiar já não existia.

Matilde tinha de se apresentar todas as manhãs às autoridades, mas o ritual cumpriu-se durante pouco tempo. Conta Aurora: "Quando eles chegaram naquela noite, a minha mãe percebeu logo o que ia acontecer. Pediu para dar de mamar à minha irmã e depois levaram-na. Tinha 31 anos e o corpo nunca mais apareceu..." Diz-se que foi violada antes de a matarem e enterrarem.

Aurora recebe a primeira carta do pai em 1942, através da Cruz Vermelha, ficando a saber que ele vivia no Norte de África. Encontrou-o pela primeira vez em Casablanca, quando tinha 16 anos. "É um momento de que me lembro muito bem", diz com um sorriso triste. Depois disso, as férias de Verão eram passadas sempre em Casablanca e foi assim que aprendeu francês, que fala com uma fluência surpreendente.

O silêncio e o medo pontuaram a vida de Aurora, como a de todos os espanhóis que perderam a guerra. Quando perguntava pela mãe ausente, as tias respondiam-lhe: "A menina cale-se!". Do pai também nunca conseguiu retirar nada - "ele nunca contou nada, mesmo nada, do que lhe aconteceu durante a guerra ou na militância clandestina". Antonio Lora regressou a Espanha em 1975, com Franco ainda vivo, e foi reintegrado no ano seguinte no cargo que tinha à data do exílio. Morreu aos 81 anos e está enterrado em Castuera.

Aurora insiste em dizer: "É uma história entre tantas!..." Contá-la é, possivelmente, uma forma de exorcizar a mágoa de não saber onde está enterrado o corpo. Oficialmente, não se sabe por que motivo a mataram, nem existe qualquer documento que comprove o óbito. Depois de numerosas diligências, foi autorizada a colocar uma lápide com a única foto que existe da mãe no local do cemitério onde se estima que tenha sido morta.

Quando termina o relato, Aurora Navas levanta-se com o peso dos seus 73 anos e, com o mesmo sorriso tímido e triste, despede-se das estudantes que a ouviram falar, numa tarde luminosa e tépida de Maio, num jardim de Castuera.

Lugar de abandono

Para quem viaja a partir de Badajoz, a paisagem sofre uma mudança radical à aproximação de Castuera, na comarca de La Serena. O montado, em tudo semelhante ao do Alentejo, dá lugar a terrenos férteis de regadio, e destes transita-se para enormes extensões planas e pouco acidentadas, com vegetação rasteira e escassas árvores.

Numa curva da estrada, na distante linha do horizonte, vislumbra-se Castuera, encostada à serra com o mesmo nome. É uma pequena e discreta localidade de 10 mil habitantes - em Portugal, falaríamos de uma vila -, tantos como os que havia no tempo da guerra civil, que vivem sobretudo da produção de queijo de ovelha, mel e torrão, este uma especialidade local. "O campo de concentração ficava à esquerda", informa José Manuel Corbacho, presidente da Associação para a Recuperação da Memória Histórica da Estremadura (Armhex).

Nos roteiros históricos estremenhos da guerra civil, Castuera surge como sede de um dos oito campos de concentração da província de Badajoz - funcionou entre a Primavera de 1939 e Março do ano seguinte, integrado numa rede nacional de 180 campos que acolheram entre 360 e 500 mil soldados e presos republicanos no período 1936-1947.

Sem ajuda, seria quase impossível dar com o lugar, pois nada assinala a sua existência. Saindo da povoação em direcção a leste, primeiro por estrada alcatroada e depois por caminho de terra batida em bom estado, entra-se num imenso território ermo e coberto por esteva até onde a vista alcança. Aqui e ali, mas a grande distância, vislumbram-se raras construções, possivelmente habitadas ou apenas destinadas a guardar alfaias agrícolas. Castuera está só a dois quilómetros de distância, mas é como se tivéssemos atingido a última fronteira do conhecido, tal é a sensação de isolamento, abandono, solidão esmagadora.

O nosso guia, Antonio López (historiador e membro da Associação Memorial Campo de Concentração de Castuera), pára o carro e sai, apontando para o terreno plano: era aqui o campo de concentração de Castuera. É uma terra áspera, abandonada pela natureza e desprezada pelos homens - se excluirmos a construção de uma central solar no limite do perímetro do campo -, fácil de percorrer a pé mas onde dificilmente alguém se decidiria a viver. Não muito longe, quase camuflada no terreno, passa a velha via-férrea Badajoz-Madrid, usada para trazer muitos dos detidos.

Neste lugar, o novo poder franquista começou a construir, em Março de 1939, o campo de concentração - sete hectares de terra por onde passaram cerca de dez mil homens. Rodeados por fosso e cercados por arame farpado, havia 80 barracões sobrelotados, latrinas rudimentares, zona sanitária e área de incomunicáveis para os mais "perigosos". Foram abertos dois poços que rapidamente secaram, contribuindo para tornar a vida dos presos ainda mais difícil. À inclemência do clima - muito quente no Verão e gélido no Inverno - juntava-se a dureza da vida quotidiana dos detidos, submetidos a uma brutal disciplina que não excluía as humilhações, castigos, agressões físicas e coacção psicológica. "Eram obrigados a dar vivas a Franco e a cantar o Cara al Sol [hino da Falange, o partido fascista espanhol]. A bandeira estava hasteada fora do recinto porque os presos não eram considerados verdadeiros espanhóis", lembra Antonio López.

Eliminados com granadas

A comida era pouca e má, compensada de vez em quando pela entrega de alguns alimentos por parte das famílias dos presos. A higiene pessoal quase não existia e a roupa tinha de ser usada por tempo indefinido. Com tais condições de insalubridade, agravadas pelo calor estival, vieram as doenças - sarna, tifo e mesmo um surto de varíola. Havia ratos por todo o lado e a actividade diária dominante consistia em catar piolhos.

O número de guardas era surpreendentemente reduzido - duas dezenas para milhares de presos. "Visto assim, não se percebe por que não se revoltaram contra as agressões e a violência. Mas isso seria esquecer que o terror era a arma da dominação franquista", comenta Antonio López.

Do que existiu há 70 anos já não há quase nada que o testemunhe - os restos de um pedestal de cimento onde antes estava a cruz do campo, as valas de uma fossa sanitária rudimentar e, fora do recinto, o que sobra da antiga torre da mina de La Gamonita, abandonada no final do século XIX. Preso ao muro da torre, um ramo de flores murchas e um cartão que alguém ali deixou lembram, a quem passe, o destino da família Sayabera, "victimas del franquismo".

Diz Antonio López: "Há minas por todo o lado e muitos testemunhos falam de fuzilamentos e do lançamento dos corpos para as galerias. Também se diz que, por vezes, os presos eram atados uns aos outros e empurrados para dentro dos poços; os sobreviventes eram eliminados depois com granadas." Verdade ou mito? Só a exploração das galerias, nunca feita até agora, poderá esclarecer o que há de fundamentado nestes rumores. Em contrapartida, está estabelecido que muitos presos, a título individual ou incluídos em listas, foram retirados arbitrariamente do campo (as sacas) e levados a pasear por membros locais da Falange. Os seus corpos nunca mais apareceram.

Visitar o lugar do campo de concentração de Castuera marcou vivamente Margarida Reis e Silva, aluna de mestrado em História Moderna e Contemporânea no ISCTE. Lembra que "é o único dos locais visitados que se encontra protegido como bem patrimonial", o que significa que "não foi ali permitido apagar totalmente a memória física de 1936-1977". Outra descoberta pessoal é a noção de que "a violência pode apagar a memória de um país inteiro": "O terror do franquismo condicionou duas gerações que o viveram na primeira pessoa e as marcas dessa manipulação não desapareceram com 30 anos de democracia."

José Antonio Gonzalez, último alcaide republicano de Zafra, foi um dos muitos que não sobreviveram ao campo de Castuera. Quando os nacionalistas ocuparam a região, conseguiu escapar para Madrid. No final da guerra foi internado no campo de Castuera, de onde desapareceu sem deixar rasto. Libertad Gonzalez, a sua filha, hoje com 73 anos, transportou sempre consigo essa mágoa: "Nunca me devolveram o meu pai para o poder enterrar ao lado de minha mãe." Há dor e tristeza na evocação de Libertad quando lembra que o pai "evitou a morte de muita gente de pistola na mão" - refere-se às pessoas de direita que correram perigo de vida por terem participado ou apoiado o golpe militar de 18 de Julho de 1936 contra a II República espanhola.

Uma rua de Zafra tem o nome do pai de Libertad, fraca consolação pessoal para tamanha perda, mas que é, feitas as contas, um gesto de justiça elementar. "Sou filha de um republicano que nunca matou nem roubou. Não queremos vingança, porque os que o mataram já morreram e os seus descendentes não têm culpa disso", diz . E recorda com emoção mal contida uma das últimas afirmações do pai: "Ele costumava repetir: "Morreu Espanha, a República também, mas fiquei com a Libertad." Era eu..."

Morrer em Badajoz

"É mais fácil nomear os lugares onde não houve fuzilamentos do que o contrário...", comenta José Manuel Corbacho enquanto percorremos o casco historico de Badajoz. A cidade estremenha foi palco, em Agosto de 1936, de um dos episódios mais cruéis dos primeiros meses da guerra civil espanhola - a conquista dessa localidade fronteiriça era essencial para a unificação do exército nacionalista do Sul com o do general Mola, vindo do Norte.

Graças ao testemunho de um punhado de jornalistas presentes no palco das operações - um dos mais vibrantes é o do português Mário Neves, do Diário de Lisboa -, foi impossível à propaganda franquista esconder da opinião pública internacional o que ficou conhecido como a "Matança de Badajoz".

Junto à Porta de Trinidad os combates foram ferozes e os legionários, vindos do bairro operário de S. Roque, sofreram pesadas baixas antes de conseguirem entrar na cidade - ficou conhecida como a "Brecha da Morte". Na Plaza de Cervantes foram realizados pelos falangistas os primeiros fuzilamentos, que depois também ocorreram junto ao muro da Torre da catedral, na Plaza de España (Plaza Mayor). Na Calle de la Sangre, diz-se, a quantidade de mortos foi tão grande que o sangue escorria pela rua abaixo. Na Plaza de la Soledad, onde existe uma réplica da Giralda de Sevilha, também houve fuzilamentos e na Plaza Lopes de Ayala, onde estava instalado o comando militar - Mário Neves terá ali entrevistado Yagüe, que admitiu a eliminação dos combatentes republicanos - também se encontravam cadáveres. O mesmo se verificou na Plaza de S. José e na Plaza Alta, antes de se chegar à Alcazaba, onde se travaram os últimos combates contra milicianos entrincheirados...

Luis Plá tinha 11 anos quando perdeu o pai e um tio, ambos do partido da Esquerda Republicana e comerciantes em Badajoz. Foi logo a seguir à queda da cidade nas mãos dos nacionalistas: "Uns falangistas vieram a casa do meu pai para un paseo. Ele e o irmão refugiaram-se em casa de gente de esquerda e uns primos direitos do meu tio, que eram muito direitistas, foram falar com Yagüe. Este assegurou-lhes que se não tivessem cometido nenhum crime nada lhes aconteceria. Ele parecia ser um homem de palavra e eles entregaram-se. Mas não, foi um criminoso daquela maldita guerra!"

Todas as manhãs, os familiares levavam-lhes comida à prisão. Naquele dia responderam-lhes que a refeição já não lhes fazia falta. Os dois irmãos foram levados muito cedo da prisão e fuzilados junto às traseiras do edifício dos correios. "Lembro-me dos gritos das mulheres em casa quando se soube", diz Luis Plá, hoje com 86 anos. "Os negócios foram vendidos, o Yagüe apropriou-se do automóvel de família, que nunca mais foi devolvido, e nós tivemos de viver da caridade, pois éramos os filhos dos Plá. Podia falar durante horas das perseguições que a minha mãe sofreu. Foi um trauma para toda a vida!"

Os irmãos Plá fizeram parte das centenas de vítimas - as estimativas mais fundamentadas falam em cerca de dois mil mortos - do assalto a Badajoz no dia 14 de Agosto de 1936 pelos três mil legionários e tropas regulares marroquinas de Yagüe. No interior das muralhas de Badajoz havia à volta de 3500 homens (na sua esmagadora maioria milicianos), que se opuseram aos insurrectos. A cidade foi duramente bombardeada pela artilharia e aviação nacionalistas antes do assalto final. As tropas franquistas conseguiram abrir uma brecha na muralha leste, junto à Porta de la Trinidad, e aceder à Alcazaba, o ponto mais alto de Badajoz, pela Puerta de Carros. Na progressão, os nacionalistas encontraram uma resistência desesperada e os combates corpo a corpo sucederam-se. Nesse mesmo dia, Yagüe mandou meter todos os prisioneiros na praça de touros e as execuções começaram à noite.

Trabalho quase escravo

A cidade parece conviver mal com este passado recente. Um visitante desprevenido não conseguiria detectar no tecido urbano os últimos vestígios ou marcas da guerra. A explicação é simples: já não existem.

No local onde havia a praça de touros, demolida em 2002, foi inaugurado em 2006 o Palácio de Congressos de Badajoz. No largo em frente, uma obra da escultora Blanca Muñoz, sem qualquer placa identificativa ou explicativa, evoca as vítimas de 1936.

No ano passado, ignorando os protestos internos e internacionais e as propostas da Armhex para salvar mais um símbolo da repressão franquista, o ayuntamento tapou o muro do Cemitério de S. Juan junto ao qual houve execuções e foram incinerados cadáveres - as marcas das balas nas paredes ainda lá estavam. Dentro do cemitério, existe apenas um memorial - sempre com flores, mas ao qual faltam letras que ninguém se preocupa em substituir -, lembrando a vala comum onde tantos corpos foram empilhados e queimados.

Foi esta parte da visita que mais impressionou Marta Silva, bolseira de investigação sobre um século de História do Instituto Superior Técnico (Lisboa) e do movimento estudantil (1911-2011). "Para mim, o novo muro do cemitério de Badajoz representou uma tentativa de omissão de uma parte da História", afirma. "De facto, o regime franquista fez o "seu trabalho" muito bem feito, aniquilando milhares de possíveis opositores e usando uma repressão física e psicológica tão forte que conseguiu que, ainda hoje, a memória imposta seja a dos vencedores, a única que tem direito a homenagens devidamente identificadas."

Como explicar que tudo isto aconteça em democracia? Responde Corbacho:

"Com tanta gente que foi morta, há muitas famílias de republicanos que preferem esquecer, apagar esses episódios longínquos das suas cabeças - como se nada tivesse acontecido nas suas vidas. Ainda há um sentimento de culpa e vergonha por terem rojos [comunistas] na família... A geração dos filhos cresceu despolitizada por acção da repressão franquista e dos mecanismos de culpabilização instalados colectivamente."

O crescimento de Badajoz, hoje com cerca de 160 mil habitantes, "ajudou" a eliminar os símbolos da repressão franquista. Nos campos, a situação é um pouco diferente - os testemunhos estão lá, mas poucos os conhecem, e mesmo encontrá-los é tarefa difícil. O campo de Castuera não é caso único.

Na auto-estrada para Madrid, seguindo o caminho inverso ao que Yagüe e as suas tropas percorreram para ocupar a cidade estremenha, a saída para Montijo fica a cerca de 35 quilómetros. Passando a localidade, onde a repressão franquista foi muito violenta, a estrada ladeia um canal de rega com 30 quilómetros que faz chegar a água do Guadiana a estas terras de cultivo. Juntamente com uma barragem, foi construído nos primeiros anos da década de 1940 pelos presos da colónia penitenciária militarizada de Montijo, criada pelo regime para "redimir" os adversários políticos pelo trabalho - a expressão eufemística de um regime de quase escravatura...

Ao longe, vê-se o perfil escuro da serra de Arroyo de S. Serván, que serviu de base a um foco de guerrilha antifranquista nos anos a seguir à guerra civil. Numa área isolada, o campo-prisão ficava à beira do canal, nesta altura do ano cercado por um mar de papoilas. Abriu em 1940 e esteve em funcionamento até 1947, quando acabou a construção da rede de irrigação. Submetidos às regras da disciplina militar, por aqui passaram pelo menos cerca de 1500 presos, na sua maioria estremenhos e andaluzes, mas também de outras regiões de Espanha. Mais de metade foram condenados em conselho de guerra à pena capital, depois comutada em 30 anos de prisão. Estavam alojados em seis barracões, viviam em condições sanitárias más e a alimentação era escassa.

"Os detidos eram organizados em brigadas de 40 elementos e saíam para o campo. Oficialmente, trabalhavam oito horas, mas na prática era de sol a sol, sem direito a dias livres. Ao domingo, tinham de ir à missa e de vez em quando recebiam a visita dos familiares, mas sem direito a contacto físico", conta Candela Chaves, bolseira de um projecto de recuperação da memória histórica e da repressão na província de Badajoz.

A colónia deu lugar a uma exploração agrícola privada. Dois dos velhos barracões estão muito degradados e o terceiro, recuperado, é a residência dos actuais proprietários. Nos arredores há sinais de mais presença humana, casario habitado e algumas instalações fabris. Mas, há 70 anos, tudo o que os presos conseguiam ver daqui era a torre da igreja e os telhados mais altos das casas de Montijo, à distância de alguns quilómetros. Estavam entregues à sua sorte e ao poder dos carcereiros, e não há no local qualquer cartaz ou lápide que lembre o que ali existiu.

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