PS prepara-se para acusar BE se Alegre for derrotado

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Manuel Alegre andou ontem pelo Minho ADRIANO MIRANDA

Socialistas planeiam responsabilizar Bloco de querer dividir o partido. Ontem, Seguro apelou ao voto da "família socialista"

Numa campanha que representa uma estreia para o Bloco de Esquerda (BE) - além da aliança com o PS no apoio a Manuel Alegre, os bloquistas tiveram de se adaptar, sobretudo em termos de contenção verbal, a estar ao lado dos socialistas - nada pode ser descurado. Nem mesmo o discurso do dia seguinte às eleições. Os bloquistas dizem que essa preparação será feita no sábado. Mas parecem adivinhar que, em caso de derrota, os socialistas vão culpabilizá-los pelos resultados.

Dirigentes nacionais do PS ouvidos pelo PÚBLICO confirmam isso mesmo: entre as bases está a ser ensaiado o discurso de responsabilização do BE. Alegre também não será poupado, com críticas à "incoerência" das suas intervenções: um dia mais próximas do programa bloquista, outro mais ao encontro da família socialista.

Defendendo que o partido cometeu um erro táctico ao decidir apoiar formalmente Alegre, embarcando na "espécie de armadilha" lançada pelos bloquistas (que, mal o socialista anunciou a intenção de ir a votos, vieram proclamar que estavam ao seu lado), o PS planeia defender-se com o argumento de que o candidato obteria melhores resultados sem o apoio do BE. Que, explicam os mesmos dirigentes, não terá tido outro propósito senão dividir o PS e enfraquecer o partido. Este argumento poderá também servir, apontam, para sustentar a precária participação de muitos elementos da cúpula partidária nas acções da campanha.

Apesar de não ser evidente, nota-se já alguma desconfiança mútua entre socialistas e bloquistas, sobretudo porque estes últimos prevêem vir a ser responsabilizados por um eventual mau resultado de Alegre. Ao PÚBLICO, o deputado João Semedo disse acreditar que "a esmagadora maioria do eleitorado bloquista vai votar em Manuel Alegre", justificando que o BE "fez um esforço de mobilização do seu eleitorado".

BPP é "assunto encerrado"

Ontem, o deputado do PS António José Seguro acabou por confirmar a deficiente mobilização do PS ao exortar a "família socialista" a envolver-se na campanha. Num jantar-comício em Vizela, repetiu que as eleições são "difíceis", que "o desafio é exigente", apelando "aos socialistas" para votarem em Alegre.

O candidato, por seu lado, não estanca as acusações a Cavaco. "Há um candidato que está a dizer : "Ou eu ou o caos"", disse, embora na noite anterior tenha sublinhado que as eleições são "uma luta de vida ou de morte pela democracia". Classificou a campanha do adversário de "azeda" e afirmou que este "insulta os adversários".

Ao fim de uma semana a questionar os assessores da candidatura sobre se Alegre já recebeu informações do seu banco - em entrevista à RTP disse ter pedido dados para saber se o cheque que devolveu ao BPP teria ou não sido descontado -, o PÚBLICO teve ontem à noite uma resposta: "Isso é um assunto encerrado para esta campanha", afirmou fonte da candidatura.

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