Será que há uma crise?

A entrevista de José Sócrates à RTP1 tinha um objectivo: tentar justificar por que é que meteu na gaveta o programa eleitoral com que foi eleito e por que é que decidiu tomar medidas de austeridade cuja necessidade sempre negou. Encontrou uma explicação aparentemente simples. Disse que o mundo mudou, numa só semana, a de 30 de Abril. E que, no espaço de uma semana, Sócrates, o super-herói, tomou com coragem as medidas duras que a situação exigia. Mas depois disse que o mundo mudou em duas semanas. E mais à frente disse que o mundo mudou em três semanas.

O primeiro-ministro foi incapaz de reconhecer o essencial: que fez de conta que não havia tempestade no horizonte e que viveu meses e meses - muito mais do que três semanas - em negação absoluta. Disse até que a sua obrigação é governar com atenção à realidade e disse-o sem se rir.

O primeiro-ministro foi incapaz de aceitar que a economia portuguesa tem um problema estrutural, insistindo na ideia, falsa, de que estamos todos mal na Europa, por causa dos malvados dos mercados.

O primeiro-ministro tentou camuflar, de forma inábil, que Portugal foi obrigado a agir pela UE, afirmando que as medidas que tomou são parte de um esforço colectivo de todos os países europeus, Alemanha incluída.

Ao fim de quase 40 minutos, disse que o importante não é o TGV, mas o investimento público. Parece que estamos a fazer muitos hospitais.

Disse também que é preciso dizer toda a verdade aos portugueses e disse-o sem se rir.

É que, a ouvi-lo falar, nem parece que há uma crise...

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