Apenas um pequeno balão de oxigénio na crise do euro

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Os gregos continuam divididos - nas urnas uma ligeira maioria (51%) votou em partidos antiausteridade YOGOS KARAHALIS/REUTERs

O Governo que sair das negociações em curso será julgado pelas concessões conseguidas dos credores internacionais. Mas a Alemanha parece intransigente

Enquanto os políticos gregos se desdobravam em conversações para formar um Governo e declarações sobre a sua urgência, analistas diziam que a capacidade de sobrevivência deste executivo, qualquer que ele seja, dependerá sobretudo das concessões que conseguir dos credores internacionais. Como os sinais que vêm da Alemanha são de pouca vontade para compromissos, já há quem apresente o resultado destas eleições como apenas um pequeno balão de oxigénio para a Grécia.

Os gregos continuam divididos - nas urnas uma ligeira maioria (51%) votou em partidos antiausteridade da esquerda à direita, os restantes nos dois partidos pró-memorando com a troika, que conseguem uma maioria parlamentar graças ao bónus de 50 deputados dados ao partido vencedor. A divisão mantinha-se após a votação: havia quem falasse do alívio de evitar algo pior, a saída do euro, e quem se queixasse que agora ninguém pararia o caminho da austeridade que está a secar a economia.

Ontem, Antonis Samaras, líder do Nova Democracia, que obteve 29,6% dos votos (e 129 deputados), disse que o país iria "cumprir as suas obrigações". Mas também afirmou que irá renegociar o acordo de empréstimo de 130 mil milhões de euros. "É preciso levar a cabo as negociações necessárias sobre o plano para fazer sair o povo da realidade torturante do desemprego e das dificuldades extraordinárias da política grega", afirmou.

Na oposição, Samaras tinha sido uma voz forte contra o acordo com a troika defendido pelo Partido Socialista (PASOK) para, no entanto, acabar por o assinar, e entrar no Governo liderado pelo tecnocrata Lucas Papademos que o aplicou.

"O prazo de vida deste Governo vai depender das condições que conseguir obter dos credores", estimou Matina Stevis, jornalista do Wall Street Journal. "A crise foi adiada, não necessariamente evitada", concordava Theodore Couloumbis, vice-presidente do think-tank grego de relações internacionais Eliamep, em declarações à Reuters. "Para este Governo durar, tem de mostrar resultados. Não se pode continuar com 50% de desemprego entre os jovens e um quinto ano seguido de recessão", avisou.

Mas da Alemanha parecia só vir uma palavra: "Nein". O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, admitiu conversações sobre prazos, mas não sobre o conteúdo. Ontem, a própria chanceler, Angela Merkel, veio dizer que não era aceitável qualquer renegociação de promessas feitas pela Grécia, e que o novo Governo tem de cumprir os compromissos feitos aos credores.

PASOK quer salvar a pele

O líder do Nova Democracia recebeu o mandato para formar Governo do Presidente, Karoulos Papoulias, ao fim da manhã, e lançou-se numa maratona de reuniões.

Nova Democracia e PASOK têm deputados suficientes para uma coligação, com 162 deputados num Parlamento de 300, mas este seria um governo fraco.

Especialmente o PASOK está preocupado com a sua sobrevivência política. Ontem o seu líder, Evangelos Venizelos, reuniu-se com Samaras e não afirmou se vai ou não participar no governo de coligação, insistindo em conversações que incluam o Syriza, o segundo partido mais votado. A ideia foi vista como uma manobra de conseguir que o Syriza se amarrasse ao acordo com a troika e assim o PASOK pudesse ter de volta a popularidade à esquerda. A aparente tentativa do PASOK (que ganhou com 44% nas eleições de 2009 para agora obter 12,3%) salvar a sua pele causa alguma preocupação de que possa pôr o interesse do partido à frente do interesse nacional, não só durante as conversações para formar governo mas também durante a governação. Fonte do Nova Democracia garantia, entretanto, que já havia um "sim" do PASOK ao convite de entrada na coligação.

Data-limite é amanhã

No entanto, para que este governo não seja de novo apenas Nova Democracia e PASOK, os dois partidos que são vistos como os responsáveis por terem deixado a Grécia no estado de bancarrota, evitado só pelo empréstimo da troika contra um programa de austeridade especialmente duro, a chave poderá estar no pequeno partido Esquerda Democrática, um partido que resultou de uma dissidência do Syriza e que obteve agora 6,2% dos votos (17 deputados). A seguir à reunião com Samaras, o líder do partido, Fotis Kouvelis, disse quais as condições para participar num governo, incluindo: aumento do prazo do período do ajustamento fiscal, regresso do salário mínimo anterior aos cortes, contratos colectivos, etc. "Não vou dar um cheque em branco", garantiu Kouvelis. Samaras classificou a discussão como "construtiva", adiantando que a reunião irá prosseguir hoje.

Na oposição está, entretanto, um Syriza fortalecido. Aliás, no "day after", já muitos o classificavam como "o vencedor" destas eleições. O partido tinha conseguido apenas 4,8% nas eleições de 2009, subiu para 16% a 6 de Maio e atingiu agora 27%. Vai ter 71 deputados e o seu líder, Alexis Tsipras, já prometeu "exercer vigilância sobre o Governo".

Venizelos veio ontem criticar Tsipras, dizendo que o líder do Syriza é irresponsável por se querer manter na oposição e classificando os seus comentários como "não só um desapontamento, mas até uma provocação".

A data-limite para um Governo parece estar lançada, e é amanhã: é então que expira o prazo de três dias dado a Samaras para formar Governo, e o país precisa de enviar um representante ao encontro dos ministros das Finanças da zona euro marcado para quinta-feira, dia 21, no Luxemburgo.

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