PSD de Lisboa escolhe futuro líder no meio de convulsões internas

Pela primeira vez vai haver uma concelhia, a maior do país, para permitir ao partido falar a uma só voz na cidade. Esse é o objectivo

Um compara o partido a "uma vaca cujas tetas os dirigentes têm dificuldade em largar". O outro quer que a cidade discuta os prós e os contras da prostituição legalizada. Os militantes do PSD escolhem pela primeira vez o presidente da concelhia de Lisboa no próximo dia 28.

A nova concelhia do PSD vai ser a maior do país, reunindo mais de nove mil militantes. Dentro do partido, algumas expectativas vão no sentido de o seu líder poder alcançar considerável protagonismo político. Até hoje, a organização do PSD de Lisboa, tal como de outros três concelhos, era atípica em relação ao resto do país: estava dividida em nove secções, o que dificultava tanto os processos eleitorais como a união das estruturas locais a uma só voz. A partir de agora, as secções serão transformadas em núcleos, todos eles representados por quem ganhar a disputa. Por enquanto, há dois candidatos.

As eleições surgem num momento em que se agudizam os conflitos internos entre dirigentes e autarcas locais "laranja". O vereador Santana Lopes entrou em rota de colisão com a distrital e a bancada social-democrata na Assembleia Municipal de Lisboa, ao ponto de os desentendimentos se terem tornado um tema central na campanha para a concelhia. "Unir para renovar" é o lema do candidato mais batido nas lides autárquicas, o antigo vereador Sérgio Lipari.

O seu rival, Paulo Ribeiro, não poupa críticas ao estado a que o seu partido chegou em Lisboa, "semelhante àquele em que Sócrates colocou o país": "É um PSD que se autoflagela".Daí a metáfora da vaca. Militante da Lapa, bairro onde cresceu e onde continua a morar aos 42 anos, Paulo Ribeiro garante que com ele tudo será diferente: "Estou aqui não para tirar leite à vaca mas para a alimentar".

Pagar quotas em atraso

Não é a primeira vez que este empresário do ramo informático recorre a alegorias zoológicas quando fala do PSD. Em 2009, comparou os dirigentes do partido a porcos-espinhos ferindo-se uns aos outros. Desta vez, avança para a corrida mesmo ciente de que a candidatura "aritmeticamente vencedora" é a outra. É ao lado de Lipari - que foi, durante vários anos, presidente da poderosa secção A, de Benfica - que estão a primeira vice-presidente do partido, Paula Teixeira da Cruz, e ainda António Nogueira Leite e Vasco Rato. Lipari é vice-presidente da distrital. Mas é igualmente deste jurista que se fala quando se recordam escândalos como a entrada de algumas dezenas de militantes da secção A para a empresa municipal que gere os bairros sociais, a Gebalis, quando foi director-geral. Ou da arregimentação a eito de militantes dos bairros sociais para engrossar o peso político da dita secção. O candidato diz-se magoado com as mentiras que os colegas de partido têm inventado. "Fui crucificado publicamente no passado", queixa-se. Para o bem e para o mal, a reputação de zelo partidário exacerbado não o larga: "Temos indicação de que a candidatura de Ségio Lipari vai pagar quotas em atraso a militantes [para estes votarem nele]. Não há mecanismos que o impeçam", acusa Paulo Ribeiro.

O empresário não divulga para já os apoios da sua candidatura, que assume como contracorrente. Já foi alvo de críticas de promiscuidade pela sua empresa ter, por várias vezes, prestado serviços ao PSD, na gestão de candidaturas autárquicas. "Perdi dinheiro para ajudar o partido", assegura.

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