Proibição dos movimentos especulativos na Alemanha atira bolsas para o vermelho

Quedas entre dois e três por cento nas principais praças. Investidores temem excessiva regulamentação dos mercados financeiros

A decisão alemã de proibir o naked short-selling sobre acções e obrigações europeias gerou ontem uma queda violenta nas bolsas. A medida, que visa travar movimentos especulativos que agravam a queda dos mercados, gerou um movimento oposto, com os investidores a interrogarem-se sobre os motivos que terão levado a Alemanha, a economia mais sólida da zona euro, a tomar uma medida tão drástica e isolada.

A proibição alemã estará em vigor até Março do próximo ano, ou até que seja tomada uma decisão conjunta na União Europeia, o que foi entendido como uma pressão para que se avance com a generalização desta prática aos restantes países.

Neste momento, a negociação de naked short-selling - prática que consiste em vender títulos que não se tem em carteira nem se pediram emprestados, esperando recomprá-los a um preço mais baixo - está proibida em Portugal e na Grécia. No caso português, esta proibição não tem impedido fortes desvalorizações dos três bancos cotados: BES, BPI e BCP.

O pessimismo dos investidores, evidenciado nas quedas entre dois e três por cento das bolsas europeias, reflecte, essencialmente, o receio de que a proibição seja seguida por países como o Reino Unido ou os Estados Unidos. Acresce a esta limitação a decisão dos ministros das Finanças europeus, que anteontem aprovaram, com o voto contra do Reino Unido, uma proposta para a regulamentação dos hedge funds, fundos altamente especulativos, que até agora não têm qualquer tipo de limitação na sua actuação. São, também, responsáveis por boa parte das transacções financeiras.

Se as duas medidas forem aplicadas nas maiores praças financeiras - em Inglaterra está sediada boa parte dos maiores hedge funds mundiais -, a liquidez e a volatilidade dos mercados podem sair prejudicadas.

Após o anúncio da medida e das declarações de Angela Merkel de que o euro está em perigo e que o fracasso do euro é o fracasso da Europa, as bolsas voltaram a registar perdas elevadas. No final do dia, Londres e Frankfurt perderam 2,81 e 2,78 por cento, respectivamente. A Bolsa de Lisboa recuou 1,92 por cento.

Os mercados de Nova Iorque, que anteontem já tinham registado fortes desvalorizações na sequência da decisão alemã, voltaram ontem a encerrar em negativo: -0,64 por cento o Dow Jones, - 0,72 por cento o Nasdaq e -0,51 por cento o S&P.

O euro começou o dia a ser penalizado pela decisão alemã e pelas declarações de Merkel, mas depois acabou por recuperar dos mínimos. No mercado de dívida, as yields (juros) das obrigações europeias caíram ligeiramente, a beneficiar do cumprimento da Grécia do empréstimo de nove mil milhões de euros que venceu ontem. Já os CSD (seguros que cobrem o incumprimento de obrigações) registaram ontem um aumento expressivo.

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