Contra a indústria cultural

Bernard Stiegler explica hoje na Gulbenkian como nos tornámos num rebanho massificado e disfuncional

Crítico da presente sociedade hiperindustrial, que privaria os homens de uma verdadeira individualidade e os tranformaria num rebanho massificado e disfuncional, o filósofo francês Bernard Stiegler fala esta tarde na Fundação Gulbenkian sobre A coisa pública como processo de trans-inviduação. A palestra, integrada no ciclo Arte, Política e Pensamento para o Século XXI, está marcada para as 17h00 e precede a intervenção de Marie-José Monzain, que tratará da Cultura do possível e fundação da vida política.

Nascido em 1952, Stiegler chegou à filosofia por uma via pouco convencional, após ter exercido ofícios tão díspares como empregado de escritório, trabalhador agrícola ou proprietário de um bar-restaurante com jazz ao vivo. Foram as dívidas que contraiu com este último negócio que o levaram, se bem que não exactamente em linha recta, a mergulhar na história da Filosofia. Como não tinha dinheiro para pagar o que devia, resolveu assaltar um banco. Fê-lo sozinho e a operação correu bem, de modo que se sentiu tentado a repetir a experiência. Ao quarto assalto à mão armada foi apanhado em flagrante, preso e condenado a cinco anos de prisão.

Stiegler resolveu então inscrever-se, por correspondência, no curso de Filosofia da Universidade de Toulouse. Deu entrada na cadeia em 1978 e saiu em 1983. No ano seguinte foi convidado para dirigir um programa de investigação no Colégio Internacional de Filosofia e, desde então, tem desempenhado diversos cargos académicos e funções públicas, sendo hoje director do Instituto de Investigação e Inovação do Centro Georges Pompidou e professor na Universidade de Tecnologia de Compiègne e no Goldsmiths College da Universidade de Londres.

Autor de obras fundamentais do pensamento contemporâneo, como De la Misère Symbolique (2004) ou La Technique et le Temps (1994-2001) - o primeiro dos três volumes desta obra resultou da sua tese de doutoramento, orientada por Jacques Derrida -, Stiegler reavalia a tradição filosófica que, desde Aristóteles, tende a separar tékhnee épistémé, vendo a técnica como antropologicamente constitutiva do humano. Profundamente crítico das indústrias culturais, que apenas se destinariam a assegurar o consumo do interminável fluxo de novos produtos gerados pela actividade económica, asfixiando todo o desejo espontâneo individual, Stiegler acha que se criou "uma nova servidão voluntária". Mas não é um crítico da tecnologia enquanto tal, tendo co-fundado uma associação, a Ars Industrialis, cuja missão é justamente a de procurar definir as condições em que aquilo a que chama "as tecnologias do espírito" poderiam ser postas "ao serviço da inteligência colectiva".

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