Suécia enfrenta "salto para o desconhecido"

A imprensa falava ontem no "fim de uma era" depois da entrada da extrema-direita no Parlamento

O primeiro-ministro pediu insistentemente: "Não façam a Suécia viver essa experiência. Façam com que eles não tenham poder". Os eleitores não lhe deram ouvidos e a extrema-direita conseguiu na sua estreia eleger 20 deputados, inviabilizando a maioria de Fredrik Reinfeldt. A Suécia junta-se assim ao grupo cada vez menos restrito de países europeus onde a anti-imigração já chegou ao Parlamento.

Durante a campanha para as legislativas de domingo, os Democratas Suecos (SD) - um partido contra a imigração e que nos últimos anos teve de se desfazer dos seus elementos nazis para ser mais facilmente aceite - tinham ficado afastados de debates televisivos. Agora, o seu líder, Jimmie Akesson, diz que chegou a altura de se fazer ouvir. "Não fomos tratados como um partido político nestas eleições", denunciou, citado pela BBC. "Ainda assim, hoje estamos aqui com um resultado fantástico... Temos quatro anos pela frente para falar dos assuntos que nos preocupam e para influenciar a política sueca".

Era isso que os partidos tradicionais estavam a tentar evitar. Reinfeldt disse e repetiu que juntar-se ao SD estava absolutamente fora de causa. A sua aliança de centro-direita conseguiu apenas 172 dos 349 assentos, insuficiente para uma maioria - ainda que tenha sido uma vitória histórica, porque pela primeira vez os conservadores foram eleitos para um segundo mandato consecutivo.

Não está ainda fora de causa um apoio dos Verdes (25 deputados), parceiros do partido Social-Democrata, que passou 65 dos últimos 78 anos no poder e era considerado o criador e guardião do Estado-providência. Mas há também a possibilidade de o país passar os próximos quatro anos com um Governo minoritário.

"Entrámos!", exultou Akesson perante os seus apoiantes, depois de serem conhecidos os resultados. "Hoje escrevemos história política". Depois, o líder cantou uma música que diz qualquer coisa como: "Estamos a caminho, queres vir connosco?"

Desde os 15 anos que Akesson (tem agora 31) é militante do SD e em 2005 foi escolhido para o liderar, numa altura em que a sua expressão nas urnas era praticamente inexistente.

Akesson considera que o islão é a maior ameaça à Suécia, país conhecido pela sua tolerância e moderação, desde a II Guerra Mundial. E defende que há uma ligação estreita entre a imigração e a criminalidade - os imigrantes constituem 14 por cento dos 9,4 milhões de habitantes.

O especialista em neonacionalismo escandinavo Anders Hellström afirma à AFP que Akesson é apenas a face visível da direcção do SD. A direcção ideológica, adianta Hellström, é garantida por um "bando dos quatro", que conta ainda com Richard Jomshof, Matitas Karlsson e Björn Söder, todos eleitos no domingo.

A imprensa falava ontem no "fim de uma era", que vem acompanhada de um "salto para o desconhecido".

Ainda antes das eleições, o analista político Folke Johansson explicava ao Financial Times que a Suécia está a tornar-se cada vez mais uma democracia "normal", com um Estado-providência menos excepcional e maior competição política. Na Europa, acrescenta o FT, essa regra política inclui uma extrema-direita eleitoralmente viável.

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