União Europeia responde dividida e atrasada às revoltas nos países árabes

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Luís Amado: UE "lenta de mais"

A União Europeia (UE) tem de encontrar respostas para a contestação popular nos países árabes no plano económico, da democratização e da segurança, a par de um impulso decisivo na criação de um Estado Palestiniano, defendeu ontem Luís Amado, ministro português dos Negócios Estrangeiros.

Amado, que se exprimia depois de uma longa análise dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos Vinte e Sete sobre a situação dos países norte-africanos que arrancou no domingo à noite e prosseguiu ontem, reconheceu que a UE está a ser "lenta de mais" na reacção à "situação mais séria com que se confronta desde o fim da Segunda Guerra Mundial nas suas relações de vizinhança".

O problema está em que os Vinte e Sete, que mantiveram durante décadas relações cordiais com todos os países do Norte de África, fechando os olhos a eventuais abusos em nome da estabilidade da região, procuram agora acompanhar e apoiar as aspirações populares sem dar a impressão de virar a casaca.

Para o ministro português, a UE tem de enfrentar a abertura democrática destes países com "fôlego estratégico e visão estratégica", nomeadamente por causa das reservas energéticas cruciais para a "recuperação da economia europeia" e dos riscos de imigração descontrolada a partir destes países. Igualmente importante, em sua opinião, será fazer acelerar o processo de paz israelo-palestiniano sob pena de "as forças islâmicas mais radicais se apoderarem dos processos democráticos (...), o que será absolutamente dramático para as relações do mundo ocidental, em particular a Europa, com esta região".

Esta tese é partilhada pela generalidade dos Vinte e Sete que, ontem, prometeram apoiar a democracia e o Estado de direito na Tunísia e no Egipto através de "novas parcerias", embora sem entrar em detalhes.

Ao mesmo tempo, apesar de terem condenado e deplorarado a repressão na Líbia, pedindo o seu fim imediato, os europeus não conseguiram evitar divisões no que se refere à firmeza a adoptar face ao seu líder, Muammar Khadafi. Em Praga, o Presidente checo, Vaclav Klaus, não perdeu, aliás, a oportunidade para apontar a contradição de vários chefes de Governo que, há apenas três meses, assumiram uma "postura muito amigável" relativamente a Khadafi, que presidia à cimeira euro-africana de Trípoli, "ao contrário" dos seus homólogos da Europa Central e Oriental.

"Grandes catástrofes"

Alexander Stubb, o ministro finlandês, defendeu a adopção imediata de sanções, incluindo a proibição de vistos de entrada na UE e congelamento dos bens dos responsáveis líbios, em sinal de protesto pela repressão.

Com uma opinião diametralmente oposta, o seu homólogo checo, Karel Schwartzenberg, considerou que "se Khadafi cair, haverá grandes catástrofes no Mundo".

Franco Frattini, chefe da diplomacia de Itália, o país com relações mais próximas da Líbia, e que teme uma invasão de imigrantes ilegais através do seu território, defendeu que a UE deve criar um "plano Marshall" para a região, nomeadamente através da mobilização de recursos financeiros do orçamento comunitário. Sem o que, defendeu, "pagaremos o preço" do eventual colapso destas economias.

Vários países do Sul da Europa, incluindo a França, Espanha e Grécia, pediram mesmo uma reafectação das verbas da política comunitária de vizinhança em favor do flanco sul, lembrando que actualmente dois terços destes programas vão para os países na fronteira leste. Segundo os cálculos que apresentaram aos parceiros, a UE gasta anualmente 1,8 euros por cada cidadão do Egipto, 7 euros na Tunísia, mas 25 euros na Moldávia.

Tal como vários países do Norte, Janos Martonyi, ministro húngaro dos Negócios Estrangeiros que preside actualmente à UE, resistiu, defendendo que a "urgência a sul" não pode implicar o desvio das atenções da UE face ao Leste.

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