Portugueses deram 1,2 milhões a Encompassing nos EUA

Patrocinadores nacionais pagaram mais de um terço do custo da exposição em Washington

Pelo menos dez das maiores empresas e algumas fortunas pessoais de Portugal contribuíram com um bolo de 1,2 milhões de euros de apoio mecenático à organização de Encompassing the Globe em Washington, em 2007, a exposição cuja apresentação em Lisboa, no ano passado, precisou de mais de dois milhões de euros em dinheiros públicos face a um único apoio privado - 55 mil euros da Fundação Calouste Gulbenkian.

Sem outros comentários, ontem, Cristina Dias Neves, do serviço de comunicação do Santander Totta, um dos principais patrocinadores da exposição na Smithonian Institution, confirmou ao PÚBLICO que o banco não foi em momento nenhum contactado para apoiar a realização da exposição no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). O mesmo poderá ter acontecido com outras empresas. O ex-ministro da Economia, Manuel Pinho, rosto na angariação de fundos para Washington, e Isabel Corte-Real, que fez a ligação entre as empresas portuguesas e a Smithonian, também reconhecem não ter sido contactados.

"Eu tratei dos apoios da exposição nos Estados Unidos, até fui eu que fiz contactos [pessoalmente]. Cá [a gestão do processo] passou para o Ministério da Cultura", disse ontem ao PÚBLICO Manuel Pinho. Já o advogado José António Pinto Ribeiro, então ministro da Cultura, recusou comentar ou explicar as circunstâncias em que foi realizada a montagem financeira da exposição no MNAA. O ex-ministro anunciara que Encompassing the Globe seria realizada em Lisboa sobretudo com o recurso a fund raising e que ele próprio e Manuel Pinho (que abandonaria a pasta no início de Julho, antes da inauguração da exposição no MNAA) se ocupariam da recolha de fundos.

Segundo informações do serviço de comunicação da Smithonian, em Washington, Encompassing the Globe teve um custo global de 4,3 milhões de dólares (cerca de 3,2 milhões de euros ao câmbio actual) e, entre Julho e Setembro de 2007, fez cerca de 340 mil visitantes (a entrada foi livre). Os principais patrocinadores desta exposição sobre as marcas dos Descobrimentos portugueses no mundo dos séculos XVI e XVII foram o Ministério da Cultura e o Qaboos Cultural Center, do sultanato de Omã. A Gulbenkian, a Caixa Geral de Depósitos, o Banco Português de Investimento, o Banco Espírito Santo, o Turismo de Portugal (Ministério da Economia), os investidores Joe Berardo e André Jordan foram outros patrocinadores. Mas outras empresas e instituições portuguesas, como a Águas de Portugal, Pousadas de Portugal, REN, FLAD e EDP comparticiparam nos 1,2 milhões de euros reunidos para a exposição em Washington e que representaram mais de um terço do orçamento global.

Quando foi realizada em Lisboa, entre Julho e Novembro de 2009, e segundo dados do IMC - Instituto dos Museus e da Conservação (ver PÚBLICO de ontem), a exposição praticamente não contou com apoios mecenáticos, tendo custado ao erário público quase dois milhões de euros (incluindo uma comparticipação de 500 mil euros do Turismo de Portugal). O IMC, em cujo orçamento recaíram os encargos, não pagou ainda integralmente a exposição, faltando cobrir 194 mil euros relativos a transporte e montagem de peças.

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